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Depois de participar do Festival do Rio, da 30.ª Mostra Internacional de São Paulo e do Festival de Locarno (Suiça), o documentário Acidente, dos mineiros Cao Guimarães e Pablo Lobato, chega ao público norte-americano. O filme participará da Mostra Competitiva Documentário Mundial na 23.ª edição do Festival de Sundance, que acontece de 18 a 28 de janeiro na cidade de Park City (Utah, EUA).

Acidente registra o pacato cotidiano de 20 cidades mineiras, a partir de um poema composto com os nomes das localidades, explorando inúmeras possibilidades. As imagens dos municípios, a maioria com habitantes em torno de 5 mil habitantes, foram captadas em digital e com uma câmera super-8. Além do apuro estético e o impacto visual conseguido pelos diretores, o filme tem um ponto alto no ótimo trabalho de montagem.

Já preparando casacos pesados para o frio e a neve de Park City, Lobato conversou com o Caderno G sobre a expectativa de exibir o filme em Sundance e os planos após a exibição para a platéia indie norte-americana.

O que representa a seleção de Acidente para o Festival de Sundance?Um presente e um verdadeiro acidente. Seleções como a do Sundance para nós, que não temos muita bala na agulha, representam um impulso em nossos recursos. Diante de certas limitações, surge uma economia de movimentos, um tipo de ócio no qual os erros potencializam os acertos. Dessa forma, o cinema independente acaba por praticar tiros certeiros. Começar a carreira do filme nesses festivais aponta algumas conquistas.

Acidente tem tido uma ótima receptividade onde já foi exibido. Vocês esperam recepção semelhante do público americano?Participar desses festivais é também uma forma de legitimar um cinema que não é feito pensando nos espectadores a priori, e por isso, pode estar mais próximo deles. Lembrando que estar mais próximo do público não é necessariamente, estar próximo de um público maior. Acidente é um filme diferente de tudo que já fizemos, assim ele pode ser muito bem recebido como aconteceu em Locarno, pode ser considerado difícil. Mas se as pessoas forem para as sessões dispostas a uma entrega, já ficaremos muito satisfeitos.

Acidente é um filme inovador que aposta na força da imagem e foge da corrente tradicional de muitos documentários. Isso pode ter ajudado no convite para competir no Sundance?Ele foi selecionado por talvez ter de fato essas características que você apontou. Mais que isso é especulação. Não conheço os curadores responsáveis, nem mesmo sei os seus nomes. Talvez depois da nossa participação no festival, possamos entender melhor isso. Mas gosto que o Sundance parta de uma proposta, o que é raro na maioria dos festivais.

A exibição no Sundance vai ajudar para montar a estratégia de lançamento? Inicialmente, tudo isso será um laboratório para nós e uma oportunidade de experimentação. O projeto de circulação do filme está aprovado pelas leis de incentivo e agora estamos buscando patrocínio. Mas temos um problema que esperamos resolver em breve. Acidente foi realizado dentro do programa de fomento ao documentário brasileiro DocTV. Como negociamos com eles para realizar o filme com uma duração maior do que o edital permitia, precisaremos negociar os direitos de comercializar essa versão mais longa em suporte eletrônico. Não temos, ou melhor, ninguém tem hoje a possibilidade de comercializar o corte dos diretores em DVD ou TV. A caixa de DVDs que o DocTV acaba de lançar traz uma versão 20 minutos mais curta do que a que será mostrada em Sundance, por exemplo.

O Festival de Sundance – bem como o de Brasília, Gramado e outros – são festivais que estão dando um valor cada vez maior ao documentário. Isso é apenas um momento ou uma tendência?Talvez isso seja um bom indício. Para nós, Acidente, por exemplo, não é nem uma ficção nem um documentário, e sim um filme. É assim que vemos a questão.

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