Passo Fundo - A tecnologia tem pautado a maior parte dos debates em Passo Fundo. O mote, inclusive, é tema da 13.ª Jornada Nacional de Literatura, que segue até a próxima sexta-feira (30). O livro digital, que monopolizou as discussões durante a mais recente Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, também está presente nas conversas formais, e mesmo nos bate-papos em mesas de restaurantes e bares da cidade gaúcha.
"O livro eletrônico não vai substituir o livro convencional", disse o jornalista e escritor Fernando Molica (O Ponto da Partida), durante o debate intitulado Jornalismo, Cinema e Internet, realizado na tarde da última terça-feira (27), dentro da maior lona, chamada Circo da Cultura. Aproximadamente cinco mil pessoas, a maior parte crianças e adolescentes, acompanharam o encontro, em meio a uma temperatura que ultrapassava os 20º C.
Molica comentou que, da mesma maneira que a televisão não substituiu o cinema, o livro digital não apenas não vai acabar com o livro tradicional, como também vai reinventar e valorizar esse tradicional suporte em papel. "Os internautas se aprofundam pesquisando e lendo obras impressas", completou.
O cineasta Jorge Furtado, a exemplo de Molica, e de outros, também defendeu o diálogo entre plataformas, ou seja: o digital não decreta o fim do impresso, ao contrário: um complementa o outro.
O jornalista e escritor Guilherme Fiúza (Meu Nome Não É Johnny) defendeu a internet como instrumento para a afirmação do indivíduo em meio a uma massificação jamais vista na História. "Como uma pessoa vai chamar a atenção em meio a tanta gente? O sujeito pode vir a ter voz com um blog. O blog, que jamais substituirá os impressos, viabiliza ao indivíduo a possibilidade de ele emitir opinião, criar interlocução e se afirmar", disse Fiúza.
Ele ainda defendeu a não-moderação dos comentários dos internautas, prática que adotou desde que atuava no extinto site www.nominimo.com.br, e que também utiliza agora no blog em que escreve, que é hospedado no portal da revista Época.
"Mesmo que os comentários sejam formados apenas por palavras de baixo calão, agressão e calúnia, acredito ser imprescindível publicar tudo. Pela minha experiência, sei que, com o tempo, tudo se acerta. Até quem, em um primeiro momento, apenas xinga, posteriormente passa a emitir comentários consistentes e elaborados", comentou Fiúza.
Um dos coordenadores dos debates, o escritor Alcione Araújo, observou que a tecnologia acaba, lenta, mas irreversivelmente, se incorporando ao ser humano. "A internet, que poderia nos pacificar, pois foi idealizada para facilitar a nossa vida, está deixando todos nós mais agitados, devido à velocidade de transmissão das informações. Precisamos estar atentos a isso", disse.
O papel é eterno
Na manhã de ontem, o escritor, roteirista e cineasta mexicano Guilermo Arriaga (Esquadrão Guilhotina, Babel, Amores Brutos ), afirmou, durante entrevista coletiva, que não acredita no livro digital, para ele, "muito imperfeito". "Diferentemente do impresso, que você pode levar para qualquer lugar, arremessar, dobrar as páginas, e onde se pode anotar. O livro de papel não acaba com a falta de luz. Quer algo mais perfeito que um livro? Não existe", afirmou.
Arriaga também defendeu a legalização do uso de drogas no México, onde o narcotráfico praticamente domina a sociedade e impõe "pena de morte", além de ter elogiado Barack Obama e de definir Hugo Chávez como "algo criado dentro de um laboratório pela elite venezuelana" a matéria completa sobre Arriaga será publicada na edição do próximo sábado (31).
O jornalista viajou a convite da organização da Jornada de Literatura de Passo Fundo.
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