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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Não é preciso investigar muito para encontrar iniciativas que procuram aproximar a música erudita de novos públicos. Elas vão desde trabalhos mais discretos, como os programas que o maestro Osvaldo Colarusso apresenta há 15 anos na Rádio Educativa, até os mais barulhentos, como os concertos para crianças do projeto Sinfônica Fora de Série, da Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP), iniciado no ano passado.

Há, no entanto, quem trabalhe nos bastidores por uma causa conceitual – uma questão de terminologia, mas que se relaciona com a desafiadora tarefa de popularização da música tocada nos concertos: a extinção do termo "erudita" em favor de "música clássica" ou "de concerto".

"‘Erudita’ é um termo horroroso. A gente está precisando criar públicos novos. Aí você vai dizer para um jovem de hoje que ele tem que conhecer uma coisa chamada ‘erudita’? Ele vai dizer – ‘não, obrigado, fico com a minha música’", defende o jornalista e crítico de música do jornal O Globo Luiz Paulo Horta. "A música clássica sempre exige [conhecimento para ser apreciada]. Mas não precisa ser erudito."

Membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Música, Horta conta ter sido bem-sucedido na extinção da denominação no Globo e em publicações como a revista Concerto. "Aqui no Rio de Janeiro, isso praticamente já acabou."

Em Curitiba, o crítico tem entre seus correligionários o maestro Norton Morozowicz, para quem o termo é "assustador" e conceitualmente equivocado, e o produtor cultural Oswaldo Aranha, para quem a palavra caracteriza a música clássica como "uma música de elite".

Indiferentes

Mas há o lado dos que, embora comprometidos com a desmistificação da música erudita, aceitam o uso da palavra por sua funcionalidade, como o próprio Colarusso, o compositor Harry Crowl e o português Osvaldo Ferreira, regente da OSP (que, diferentemente dos que dizem que o termo é exclusividade brasileira, conta que também se usa "erudita" em Portugal).

E a origem da denominação – que uns jogam na conta de Mário de Andrade e outros relacionam à criação da cátedra de música na Universidade do Rio de Janeiro –, pode não ser tão ruim assim, de acordo com a idealizadora do projeto Formação de Plateia Liana Justus.

Mestre em História pela UFPR, Liana diz que o uso da palavra remete a um fato desejável na história da música brasileira – a interação entre os chorões e os músicos de orquestras no Rio de Janeiro do século 19.

Quanto à controversa necessidade de um termo para especificar a música clássica, Liana explica que, historicamente, a música popular ainda é uma novidade – tem seus 150 anos no Brasil, e era pouco sofisticada em seus primórdios. "A qualidade foi melhorando. No futuro, a música clássica e a popular vão ser uma coisa só."

Conhecido o ritual, o que vale é a atitude

No livro Escuta Só (2011), o crítico americano Alex Ross narra a situação hipotética de alguém que começa a descobrir a música clássica e que vai a um concerto pela primeira vez. O resultado é que, sentindo-se um peixe fora d’água em um ambiente que lhe parece aristocrático da decoração às indumentárias, e fuzilado por olhares de reprovação ao tossir ou ao aplaudir no meio da obra, o personagem acaba perdendo o apreço pelo mundo recém-descoberto da música clássica.

A cena precisa ser adaptada aos concertos em Curitiba, onde, na visão de frequentadores como o compositor Harry Crowl e da musicoterapeuta Clarice Miranda, o acesso está democratizado e o público é eclético.

Mas conhecer o ritual dos concertos – na opinião de Clarice, válido por ter sido formado historicamente, ainda que tenha seus formalismos – ajuda a tornar a experiência mais agradável (leia dicas abaixo). "O que constrange não é a música, mas as pessoas que olham reprovando aquele ou outro comportamento", lembra Clarice. "Mas não acho que alguém deixe de voltar porque aplaudiu errado em algum momento. Não acho que isso interfira no gosto."

A questão principal quando o tema é a aproximação entre o ouvinte e a música clássica, para o maestro Osvaldo Colarusso, é a atitude. Independentemente das regras, a atenção e a disposição são indispensáveis, já que a audição da música erudita é diferente da popular. Uma comparação possível é a escolha entre arte e entretenimento.

"Na realidade, o cerne da questão é que a música clássica é realmente uma música de acesso mais complicado", diz Colarusso. "Profissionalmente, tento fazê-la mais acessível há 40 anos – seja no rádio, nos concertos, nas explicações. Mas, realmente, se aproximar, não é uma coisa tão simples."

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