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Bons debates e criativas reclamações correm pelos corredores e bilheterias 
do Festival | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Bons debates e criativas reclamações correm pelos corredores e bilheterias do Festival| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

O fato é que esta foi uma das edições mais equilibradas dos últimos anos. Mesmo que ainda corra pelas bilheterias e lobbies de Curitiba a conversa de que tanto a Mostra 2011 quanto o Fringe não souberam dosar as medidas. Em um universo de mais de 400 peças exibidas, parte do público reclama que as montagens são comerciais demais ou muito experimentais; elaboradas ou descuidadas; transgressoras ou embusteiras. Será?

Vamos começar pelo topo da pirâmide. Celso Curi é um dos curadores da Mostra 2011 e também trabalha como produtor, crítico e cuida da direção de oficinas culturais em São Paulo, além de atuar como representante brasileiro em uma rede de contatos teatral internacional. Conhece bem os diferentes lados da história e tem uma visão clara e tranquila sobre estes aspectos. "O teatro tem que ser formador. Se transformou a plateia de algum jeito, já cumpriu seu papel", diz Curi.

A "transformação" neste aspecto diz respeito tanto aos choros emocionados até a mais raivosa indignação. "Mesmo um stand-up pode exercer algum tipo de influência na forma como você enxerga o mundo. O grande segredo é se expor durante a manifestação artística e utilizar a mensagem para se ouvir. Ouvir o que você sentiu e tem a dizer sobre aquilo", complementa o curador.

Um exercício de sentidos e reflexões que só ajuda no processo de formação de plateia e que acontece de forma involuntária e quando você menos espera. "Existem montagens mais sofisticadas que não acrescentam nada a ninguém. Minha preocupação sempre foi com espetáculos com dramaturgia pobre. Seja humor ou drama, se tem uma dramaturgia bem resolvida, torna-se interessante e estimula a plateia a fazer uma seleção natural mais para a frente" conclui Curi.

Profissionalismo

Quem concorda com essa posição é João Luiz Fiani, polêmico dramaturgo local que se divide em suas funções como diretor, roteirista, ator e viabilizador de suas próprias peças e espaços culturais. "Não existe divisão de gênero. Podemos fazer o público chorar com uma inocente comédia ou rir em um drama. Esse limite é muito relativo. Eu faço teatro profissional e formo plateia, estou sempre em cartaz com os mais diferentes tipos de espetáculos, do stand-up até experimentos teatrais", conta.

A opção pela independência em seus projetos acrescenta um novo dado na discussão. "Quando a gente faz uma carreira, procura ter uma continuidade no trabalho. Quanto mais isso acontece, maior a formação de plateia. E eu não vou me atrelar ao governo ou a leis de incentivo para isso virar realidade. Preciso é de público", complementa o diretor que conta com um teatro que leva seu nome.

Goste-se ou não dessa posição, o elogiado dramaturgo Felipe Hirsch assina embaixo. "Quer saber quem eu acho o maior profissional de teatro em Curitiba? O Fiani. Pergunta se eu gosto de algum trabalho dele. Não. Pergunta se eu o respeito. Sim. Respeito porque ele é um cara que coloca gente no teatro, vende ingresso, faz um teatro profissional", diz Hirsch, em uma espontânea conversa realizada na semana passada.

Fiani, Hirsch, o Festival de Curitiba e quase toda a classe artística local e nacional só querem uma coisa: invadir o cotidiano da maior parte da população da cidade dizendo "teatro, teatro e teatro". Mesmo que você não tenha ido assistir as peças, sabe que o evento aconteceu, respondeu aos estímulos e entrou no jogo. Basta somar todos esse fatores e ver que não faltam motivos para apoiar todo e qualquer tipo de montagem em cartaz. Bem ou mal, elas estimulam a discussão e promovem a profissionalização do mercado.

O problema é que tais debates sobre o tema poderiam ser mais bem aproveitados pelo Festival de Curitiba, porém, correm soltos, junto com as reclamações e lamúrias despejadas pelas bilheterias, lobbies e bastidores.

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