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A Banda Mais Bonita na Cidade, em apresentação durante a Virada Cultural de 2011: algumas músicas surpreenderam | Marco Andre Lima/Gazeta do Povo
A Banda Mais Bonita na Cidade, em apresentação durante a Virada Cultural de 2011: algumas músicas surpreenderam| Foto: Marco Andre Lima/Gazeta do Povo

De primeira, pode parecer que o disco da Banda Mais Bonita da Cidade, lançado na semana passada, seja um apanhado de canções que apontam cada uma para um lugar. Some-se a isso o fator "Oração", que certamente catalisou a produção do álbum, e essa visão é até coerente. Pois o quinteto correu para lançar o disco, é verdade, tentando aproveitar os resquícios daquele vídeo que no começo deste ano causou um burburinho, e criou fãs e antifãs quase em mesmo número.Mas as doze faixas, mais do que sugerir coerência e formatar um disco que poderia estar na classificação "indie bonitinho", nos dizem que a Banda Mais Bonita tinha muitas cartas na manga e procurou mostrá-las todas, de uma vez só. Algumas funcionam.

E é Curitiba que abre o disco. "Mercadoramama" tem o poder de se tornar íntima, de criar um dialogismo rápido, justamente por conta da referência à rede de supermercados. É uma música cotidiana e divertida, mas que faz muito mais sentido para quem vive por aqui.

A segunda faixa, "Aos Garotos de Aluguel", é uma das músicas mais conhecidas da Poléxia, ex-banda do guitarrista Rodrigo Lemos. É uma versão que ganha em cor, mas perde em força. Há um minimalismo que soa estranho, e vazios que dão vez à voz de Uyara Torrente. E aí vem uma sequência de músicas que podem surpreender ainda mais quem só conhece "Oração".

"Boa Pessoa" é melancólica e simples. Uma balada ao violão, quase altruísta. "A Balada da Bailarina Torta", também composta por Leo Fressato, criador de "Oração", tem seu charme por conta do piano quase incômodo, torto no limite, que faz jus ao nome da canção.

A esquisita "Oxigênio" é uma música dividida em pelo menos três partes, que vai da tensão de um riff de guitarra repetitivo até um country ensolarado e cheio de vozes – o grupo experimenta.

"Ótima" é a faixa que vem para dizer que a Banda Mais Bonita não é a mais feliz da cidade. "Quebro a louça/ vasculho a bolsa/ no impulso de cortar os pulsos", canta Uyara. A música é letárgica, mas serve como prelúdio à "Canção para Não Voltar" – também de Fressato –, que homenageia Radiohead com seu arpejo de guitarra e que dá um up no disco por conta da bonita melodia.

Em "Solitária" há outra marca da banda: a comunhão com os amigos, que acabam virando parceiros, por mais que às vezes não dê muito certo: no meio da música de letra interessante há uma forçada declamação poética, que fala sobre como ser um guitarrista do Iron Maiden. "Nunca" igualmente privilegia a simplicidade, mas não engata.

Na parte final há "Se Eu Corro", um dueto encantador e envolvente com Luis Felipe Leprevost. Na última, "Cantiga de Dar Tchau", Uyara surge a capella, evocando Tom Jobim e trevos de quatro folhas. Mais uma música triste que pode fazer com que os fãs de "Oração" virem a cara. Aliás, e "Oração"?

A música é a 11.ª faixa, a pe­­núltima. Há elementos novos no arranjo, e a mesma vontade estranha surge: a vontade de cantar, ou mesmo resmungar escondido a música-refrão. Por conta de tudo o que aconteceu, "Oração" acaba sendo só um adendo em um álbum que pode derrapar por "atirar para todos os lados", mas que merece atenção por sua ousadia, pela história dos músicos que compõem o grupo, mas, principalmente, por belas canções que, se não serão entoadas aos quatro cantos como aquela que deu fama à banda, merecem ser ouvidas.

Serviço:

Baixe o disco gratuitamente pelo site www.abandamaisbonitadacidade.art.br/odisco/

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