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O desejo e suas variações representados por um único objeto: um nó. Este é, resumidamente, o conceito de Nó, mais novo espetáculo da Companhia de Dança Deborah Colker, que faz três apresentações no Guairão neste fim de semana – uma hoje, às 21 horas e duas amanhã, às 19 horas e às 21h30. Estreado no mês de maio do ano passado, em Wolfsburgo, na Alemanha, a nova criação da coreógrafa e bailarina carioca trata do desejo humano através do que ela chama de "uma teia de movimentos", formada por bailarinos amarrados a um cenário composto por 120 cordas. "Procurei elaborar uma coreografia que representasse o espaço, o objeto e o movimento do desejo e foi no nó que achei sua melhor definição", explica Colker, em entrevista ao Caderno G.

Corpo e mente

O virtuosismo coreográfico, a precisão e o vigor dos bailarinos e a experimentação de novos espaços cênicos, características que vêm marcando o trabalho da companhia desde que surgiu no cenário artístico, em 1994, não poderiam deixar de estar presentes no mais novo espetáculo, que demorou cerca de dois anos para ser finalizado e exigiu um rigoroso trabalho técnico e filosófico do grupo.

Os bailarinos tiveram de passar por meses de treinamento para conhecer os diferentes tipos de nós, ensinados por um marinheiro, e para dominar a técnica bondage, que visa o controle da dor, do movimento e do prazer. "A sustentação do movimento depende do tipo certo de amarração. As cordas formam uma grande árvore que vai se transformando à medida que as cordas vão sendo soltas. Os bailarinos precisaram de um tempo para pegar intimidade com as cordas e não se deixar atrapalhar por elas", conta a coreógrafa.

A fim de aparar a sofisticação técnica e dar conta da complexidade do tema do espetáculo, a companhia ainda passou a ter aulas de Filosofia com o professor carioca Fernando Muniz. "Sempre tive uma necessidade de introduzir um trabalho teórico e intelectual e isso está sendo muito positivo. Eu trabalho muito com a idéia, que é sempre o meu ponto de partida, além disso, discutir assuntos do mundo contemporâneo ajuda muito no nosso trabalho coreográfico", analisa a bailarina.

Outra novidade trazida por Nó é a inauguração de uma parceria quem vem acrescentando muito à parte estética do espetáculo, que, graças ao cenários, já impressiona. Pela primeira vez, os bailarinos vestem figurinos exclusivos do estilista Alexandre Herchcovitch. "O trabalho dele sempre teve uma relação muito forte com elementos fetichistas e isso é também algo próprio do corpo do bailarino. Os figurinos que ele criou para o espetáculo ressaltam as partes eróginas do corpo, mas de forma bastante sofisticada", conta Deborah.

No segundo ato de Nó, as cordas deixam o cenário e o palco é ocupado por uma caixa transparente, de alumínio e policarbonato, criada pelo cenógrafo Gringo Cardia. Inspirada em uma de suas viagens a Amsterdã, mais especificamente uma visita ao Red Light Disctrict – bairro onde as garotas de programa ficam expostas em vitrines nas fachadas das casas –, Deborah trouxe ao espetáculo a metáfora do desejo inalcançável, "daquilo que se vê, mas não se pode ter". "Não trabalho com essa sensualidade comum de ser vista, é algo mais sutil, mais secreto. Exploro bastante as relações de poder e dominação", explica.

Desejo universal

Levando em conta as diferentes maneiras que cada cultura se relaciona com o mundo erótico, a coreógrafa buscou se afastar da visão machista, essencialmente brasileira, de que a mulher é que deve ser dominada, tratando ambos em pé de igualdade. "Trabalho com a fragilidade e a força na mesma medida", ressalta.

Após as apresentações em Curitiba, Nó segue para uma temporada no Reino Unido e só volta ao Brasil novamente no mês de agosto. Mesmo com as diferenças culturais em relação ao tema tratado pelo espetáculo, Colker conta que a reação do público não poderia estar sendo melhor. "O público sente a diferença, vê um olhar erótico que não é vulgar, uma sensualidade que não é aparente. Sinto que este espetáculo promove uma comunicação muito intensa com a platéia, que mergulha na experiência do desejo", analisa.

Serviço: Nó, com a Companhia de Dança Deborah Colker. Auditório Bento Munhoz da Rocha – Guairão (R. Conselheiro Laurindo, s/n.º). Hoje, às 21 horas, e amanhã às 19 horas e às 21h30. Os ingressos a R$ 80 (platéia), R$ 60 (1.º balcão) e R$ 40 (2.º balcão). Meia-entrada para estudantes, portadores do cartão Petrobrás de desconto (na compra de até dois convites) e doadores de um livro para a Associação Amigos do HC.

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