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Tudo é feito de uma mesma energia. Essa crença fornece as bases para a "Teoria da Energia Única", idéia que move o protagonista de Glória (Edição do autor, 128 págs., R$ 15), novo romance de Guido Viaro. Não por acaso, o lançamento da obra acontece hoje, às 19h30, na Cinemateca de Curitiba. Prova de que o autor dá um jeito de manter os pés no cinema mesmo quando faz literatura. Como diretor, realizou dois curtas (Fuirei e Maya) e um longa-metragem (O Quarto do Universo, adaptação de seu livro de estréia).

Em parágrafos curtos, Glória é narrado por um matemático de 65 anos que se descobre doente e com poucos meses de vida. Sem tempo para concluir os estudos em torno de sua teoria, passa a investir em um jovem talento que pode, de alguma forma, dar continuidade ao trabalho escrevendo um livro sobre o tema. Sonho da juventude que virou trabalho de uma vida, a "Teoria da Energia Única" pretende medir as energias do mundo, encontrar os pontos de desequilíbrio e corrigi-los.

O pesquisador descobre que é o movimento que faz essa energia única funcionar. A partir dessa lógica, uma poça de água estagnada é um exemplo de desequilíbrio energético. Esse desejo de "corrigir o mundo" é, em parte, um anseio de Guido Viaro, que espera ser um "plantador de alguma coisa que fique". Consciente das limitações impostas por um país de não-leitores sobre o meio literário, o autor não se preocupa com o impacto imediato de sua obra.

"Quero deixar algo que possa servir para alguém daqui a dez ou 50 anos", diz. Essa é também a ambição do matemático. Sobre o seu narrador, Viaro diz que "ele está se esforçando ao máximo, (sua pesquisa) é um ato de generosidade para a humanidade, um ato de glória".

O interesse pela filosofia oriental, que já o levou duas vezes à Índia, é o ponto de partida para Glória assim como foi dos dois livros anteriores – O Quarto do Universo e Eva da Trieste (inédito). Espiritualista, o autor parte do príncipio segundo o qual as aparências dizem nada. O que é significante não está aparente. Sua simpatia é para os anônimos da História e não para as figuras célebres.

Leitor de H. D. Thoreau, William Blake e Helena Blavatsky, fundadora do movimento teosófico (algo próximo da física quântica de hoje), Viaro admite uma influência decisiva do avô, de quem herdou o nome e o gosto pelas artes. É de Guido Pellegrino Viaro (1897 – 1971) a obra "Homem sem Esperança" que ilustra a capa de Glória.

"Cresci cercado por quadros. A influência dele sobre mim é forte de uma maneira que nem sei dizer", afirma o escritor-cineasta de 37 anos. Viaro, o pintor, foi também um educador, desenvolveu um método de ensino para crianças e fundou em Curitiba o Centro Juvenil de Artes Plásticas. Viaro aprendeu as lições do avô e se tornou um humanista – ponto que o aproxima de Thoreau (Desobediência Civil), definido por ele como "um escritor de idéias e não de formas".

Embora não acredite em uma religião organizada, Viaro crê em uma "energia única" e na sobrevivência do espírito à morte. Outro conceito que o agrada é o do panteísmo, segundo o qual a divindade se manifesta na natureza e no universo.

"O mundo ideal seria livre de restrições sociais e as pessoas seriam orientadas por uma autoconsciência ética somada à generosidade. Não precisaria de leis nem de prisões, mas admito que esse discurso é vago e improvável. Talvez demore milhões de anos até uma realidade como essa se tornar possível", diz. Quem sabe em outra dimensão.

Serviço: Lançamento do livro Glória (Edição do autor, 128 págs., R$ 15), de Guido Viaro. Cinemateca de Curitiba (R. Carlos Cavalcanti, 1.174), (41) 3321-3245. Hoje, às 19h30. Entrada gratuita. Para adquirir o livro, pode-se entrar em contato com o autor pelo e-mail guidov@ig.com.br.

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