
Unidos sob a alcunha Brasil em Dois Pianos, os músicos Fábio Caramuru e Marco Bernardo apresentam hoje na Capela Santa Maria um concerto em que interpretam obras de Tom Jobim em diálogo com referências do maestro, como Chopin e Radamés Gnattali, e com artistas brasileiros influenciados por sua obra, como Egberto Gismonti.
De acordo com Caramuru, especialista na obra de Tom Jobim, a ideia inicial foi fazer um espetáculo que revelasse as relações entre a música do compositor carioca, cuja morte completa 20 anos em dezembro, e Gnattali, especialidade de Bernardo.
"Radamés foi um modelo para a carreira de Tom, e foi alguém que o influenciou e o ajudou, convidando-o para ser arranjador em programas de rádio", conta o pianista. "No fim, a estética de Tom se aproximou da dele", diz.
Entre as principais similaridades estão a forma como ambos trabalham o choro. "Gnattali tem a elaboração do choro mais sofisticada da música brasileira. Ninguém abordou este gênero de forma tão completa quanto ele. E o Jobim também entra no choro com obras como Meu Amigo Radamés, cujo arranjo é feito pelo próprio Gnattali", explica Caramuru.
O concerto, apresentado em tom informal e complementado por informações dos dois especialistas, também revela a naturalidade com que Tom Jobim se apropriava de ideias musicais de seus mestres, como em "Prelúdio N.º 4", de Chopin, que tem claras semelhanças com "Insensatez".
"Ele não se preocupava em fazer citações, fazer reaproveitamentos de coisas já existentes no repertório erudito", explica Caramuru. "Ele não via problema nisso e lidava com bom humor [quando era acusado de plágio]", conta.
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Entre os discípulos de Tom, Caramuru e Bernardo selecionaram nomes cuja ligação com o maestro soa até surpreendente.
É o caso de Gilberto Gil. "Jobim também explorou a coisa do agreste, durante a fase da música brasileira, logo após a bossa nova, que trazia elementos da música nordestina", conta Caramuru.
Já Egberto Gismonti tem ligações estéticas com Tom Jobim que remetem a uma referência anterior em comum Villa-Lobos. "Ele pega essa coisa folclórica, que Villa-Lobos fazia muito bem. E ele foi um inspirador de Jobim", diz.
Caramuru explica que a ideia da apresentação é mostrar todas essas relações de forma acessível. "Criamos o duo com a preocupação de nos comunicarmos com o público, para que a plateia sinta prazer no que está ouvindo", diz. "Queremos levar um novo ar. Tem até quem cante", revela.



