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Ao retornar ao cinema, no final da década de 90, depois de um longo período sem filmar (o artista foi muito ativo nas décadas de 60 e 70), o diretor Domingos de Oliveira adotou um estilo muito particular de fazer filmes, que o diferencia do demais cineastas do país. Utilizando-se de uma câmera digital, ele leva para as telas alguns dos espetáculos teatrais que encena nos palcos cariocas. Dessa forma chegaram ao público de cinema Amores (1997), Separações (2003), Feminices (2005) – que está sendo lançado este mês em DVD – e Carreiras (novo trabalho do diretor, que deve ser lançado nos cinemas em breve).

Mas seus longas-metragens não são apenas peças filmadas. Oliveira é experiente e domina como poucos as técnicas do cinema, sendo, talvez, o diretor brasileiro que melhor se adaptou até agora à tecnologia do filme digital (vídeo de alta definição). Defensor do cinema feito de forma barata, o carioca lançou no ano passado, no Festival Gramado (onde apresentou Carreiras), uma espécie de manifesto, o B.O.A.A. (Baixo Orçamento e Alto Astral), em que pedia maior atenção do poder público para os filmes feitos em digital. Em entrevista ao Caderno G, Domingos de Oliveira fala de Feminices e Carreiras (leia quadro) e de sua forma especial de fazer cinema.

Feminices fecha uma trilogia com Amores e Separações? Fale um pouco sobre o filme. Na verdade, Feminices é um início de uma trilogia, que segue com Carreiras e meu próximo filme, que ainda não defini qual será. Feminices é um filme que adoro, é uma crônica leve, diferente de outros que realizei. O tema tratado é um pouco particular, sobre a graça de saber o que as mulheres falam quando os homens não estão por perto.

Quando vai encenar uma peça, já pensa em adaptá-la para as telas?Meu teatro geralmente é cinematográfico, as histórias que conto se passam em vários lugares, há muitas situações paralelas. Tenho formação teatral, sou diretor e ator, mas sempre fui muito ligado ao cinema. Comecei e tive sucesso primeiro como cineasta. E meu cinema também é teatral. São dois motivos para levar minhas peças para o cinema. O primeiro é porque o teatro é fugaz, não se eterniza, ao contrário do cinema. Se eu quisesse mostrar agora a peça Amores para alguém, não poderia. Mas existe o filme. A segunda razão tem a ver com os atores, que trabalham muito melhor no filme depois de ter interpretado os mesmos personagens na peça. Eles já estão prontos, o trabalho é muito mais intenso. Altero bastante o texto do teatro para o cinema. Mas, na realidade, a gente faz diferente para ficar igual, a estrutura não é alterada. No cinema, as coisas ficam mais próximas, pois ele tem um realismo muito forte.

O cinema digital foi uma forma de libertação para você, que não conseguia recursos para seus filmes?O digital realmente me libertou. Ele veio para ficar, pois torna o processo de filmagem mais leve e rápido, e também muito mais artístico, as coisas funcionam mais em função dos atores. O digital não é melhor nem pior do que a película, apenas é diferente, tem uma acuidade de detalhes muito interessante, passa uma realidade que a película jamais terá. Mas ele jamais alcançará a diversificação de cores da película. São coisas diferentes, como são diferentes o cinema falado e o mudo. Acho que, no futuro, o cinema com a película será feito apenas em ocasiões especiais. Acho absurdo o cinema digital não receber maior apoio das autoridades brasileiras.

O que acha dos novos fundos federais para o cinema e as mudanças na Lei do Audiovisual, que prometem mais recursos para a área?As mudanças não vão dar em nada enquanto não se perceber que o cinema brasileiro não deve ser indústria e sim arte. A gente só pode concorrer lá fora com filmes de arte, nos quais o que interessa é a qualidade humana das histórias. E a maior parte dos filmes brasileiros está muito cara, as coisas tem que ser barateadas.

Conseguiu distribuidora para Carreiras?Sim, será o primeiro lançamento do Grupo Estação, que vai abrir três salas no Shopping da Gávea, no Rio, apresentando o filme. Ele será distribuído somente em versão digital. É um mercado interessante, são 80 salas digitais no país. Para o público, não interessa se o filme é caro ou barato, 35mm ou digital, mas se traz alguma coisa de humano. Um filme ou qualquer obra de arte é feito para melhorar a vida das pessoas, para que se aprenda alguma coisa com ele.

Já está trabalhando em um novo filme?Trabalho com vários projetos ao mesmo tempo. Em breve, vou estrear a peça Largando o Escritório, no Centro Cultural da Caixa, no Rio de Janeiro, e eles vão programar um ciclo com os meu filmes.

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