
Boas intenções são louváveis, sem dúvida, mas não elevam um produto cultural, seja ele um filme, um livro ou uma peça de teatro, à condição de obra de arte. Um Homem Bom, longa-metragem do brasileiro Vicente Amorim, é um exemplo pertinente para se discutir essa afirmação.
O filme, em cartaz no Cineplex Batel, conta a história de Johann Helder, um alemão comum (Viggo Mortensen, foto, em atuação contida e convincente), homem correto e sensato que, aos poucos, vai se envolvendo com o regime nazista na Alemanha de Adolf Hitler. Em tese, Um Homem Bom parte de uma ideia interessante: o meio pode, sim, influenciar o mais incorruptível dos seres humanos. Tudo depende do discurso empregado, das estratégias de convencimento postas em prática.
Helder é um professor universitário intelectualizado, autor de uma obra cujo subtexto parece encantar de alguma forma o regime.
A cúpula do partido nazista o contrata para que desenvolva uma teoria sobre a eutanásia tema embutido no seu livro que é assimilada pelo governo de forma perversa. É usada como justificativa para o extermínio de deficientes físicos e mentais, assim como para a execução em massa de judeus nos campos de concentração.
Ironicamente, o melhor amigo de Helder é o médico judeu Maurice, vivido pelo ator britânico Jason Isaacs (da série Harry Potter), co-produtor do filme.
Austero, talvez por conta do orçamento limitado, Um Homem Bom almeja ser intimista, na busca de explicitar o processo sutil de "conversão" de Helder, um livre-pensador, humanista, que se torna agente do "Mal". O problema é que o roteiro, mais preocupado em dar conta da história do que explorar a trajetória psicoemocional do protagonista, fica apenas nessa (boa) intenção. Resulta num filme digno, é verdade, mas esquecível. GG



