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O diretor Bennett Miller, cujo "Capote" rendeu em 2006 o Oscar de melhor ator a Philip Seymour Hoffman, morto em fevereiro passado, emocionou-se em entrevista concedida à imprensa mundial, em Cannes, nesta segunda-feira (19). O cineasta está no festival divulgando o novo "Foxcatcher", drama verídico que surge como um sério candidato ao Oscar e até à Palma de Ouro. Ao ser questionado sobre como funciona seu método de arrancar a melhor interpretação de um ator, o diretor chorou com a lembrança de Seymour Hoffman. "Não gostaria de falar sobre isso... Da última vez que falei sobre o assunto, eu me emocionei mais do que devia", disse Miller. Mas, mesmo visivelmente abalado, ele tentou seguir com a resposta, mas precisou parar com lágrimas nos olhos -até ser aplaudido pelos jornalistas. "Trabalhar com atores, inclusive Phil, me faz ser grato para o resto da minha vida. Eles colocam muita fé em você." Se não fosse o talento do diretor em tirar o máximo de seu elenco, "Foxcatcher" poderia ser um desastre. A trama segue a história absurda e verídica de John du Pont, interpretado pelo comediante Steve Carell, irreconhecível no grande papel de sua vida. "Eu pedi para Steve imaginar uma vida sem humor", revelou Miller. "Ele me respondeu que era impossível, mas que todos os comediantes possuem um lado sombrio." Carell faz um milionário de família tradicional americana que contrata dois irmãos medalhistas olímpicos de luta livre (Channing Tatum e Mark Ruffalo, ótimos) para criar "a melhor equipe do mundo" -e termina assassinando um deles. "Quando comecei a ler sobre a história e seus detalhes, achei tão bizarro. O que aconteceu foi tão absurdo, cômico e, no fim, trágico, mas ainda assim me trazia algo familiar", explicou Miller, que utiliza a trama para traçar um paralelo com a voracidade do capitalismo moderno. "Não quero fazer uma declaração política com o filme, não quero ter uma posição moral além da investigação e compreensão das dinâmicas de uma família", falou. "Claro que isso pode ser um olhar microscópico para o mundo." O ator Mark Ruffalo foi além, comparando "Foxcatcher" a uma "tragédia grega". "O que acontece quando tudo esta à venda? Quando o talento pode ser adquirido por um preço?", questionou o ator, que faz o irmão mais velho da dupla de lutadores. "Trabalhamos em um sistema que valoriza tudo que tem um preço. Acho que é uma discussão pontual sobre quem somos e onde estamos e é bom falar isso em um filme." "Foxcatcher" teve acompanhamento diretor do irmão mais novo retratado no filme, Mark Schulz, que chegou a ir às filmagens em Pittsburgh —e não na Filadélfia, onde a família du Pont mantém suas bases erguidas por uma fortuna baseada na venda de munição para o exército americano. "Era meio estranho interpretar uma pessoa e observá-la atrás das câmeras, então fiquei meio incomodado, mas ele foi muito gentil e me apoiou bastante na procura dos detalhes", revelou Channing Tatum. "Eu pedi para ele sair depois de dois dias, porque notei que Channing estava incomodado, mas nunca me pediria para retirar Mark do set", completou Bennett Miller. Bem mais estranho que "Capote" e longe de ser um thriller esportivo como "O Homem que Mudou o Jogo", "Foxcatcher", previsto para novembro, pode ter complicações comerciais, mas certamente renderá à Sony algumas indicações ao Oscar. Seu clima é quase etéreo, como um sonho assombrado por um milionário com problemas de insegurança: ele compete com a mãe (Vanessa Redgrave), uma criadora de cavalos, que expõe todos os troféus e fitas na mansão da família. Sem filhos (o filme deixa implícita a homossexualidade de du Pont), ele encontra em Mark seu "cavalo premiado". "Não quisemos contar uma história, mas absorvê-la e criar um contexto nosso", explicou o diretor. " Em um dos momentos mais sublimes do filme, o jovem lutador explica que o irmão mais velho não aceitará a proposta de comandar o time de luta livre da Foxcatcher, nome da empresa de John du Pont, por causa da família. "Quanto ele quer?", pergunta Steve Carell desfigurado pela maquiagem. "Não é questão de dinheiro", responde Mark. A face do milionário com a resposta transmite dúvida, inveja e raiva... e Carell não mexe um músculo. Tirar o Oscar de suas mãos será difícil.

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