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Bem sucedido com seus filmes "Na companhia dos homens" e "A enfermeira Betty", o dramaturgo americano Neil Labute amargou uma fraca recepção da crítica para seu novo filme "O sacrifício" ("The wicker man"). O remake do clássico cult britânico "O homem de palha" está longe do clássico de 1973, mas o público brasileiro parece não estar nem aí. O thriller estrelado por Nicolas Cage foi a melhor estréia fim de semana no Brasil, ficando em segundo lugar no ranking de bilheteria, segundo o boletim "Filme B".

Labute também é um renomado diretor e autor de teatro. No Brasil, sua única montagem é a peça "Baque", estrelada por Débora Evelyn e Emílio de Mello. Conhecido pela misogenia em seus filmes, desta vez ele deu um toque feminista à produção. Na entrevista, ele fala dessa diferença entre os sexos na relação do trabalho, defende a liberdade religiosa e de opinião de seu país e revela por que trabalhou com uma estrela de Hollywood tão famosa (Cage).

O GLOBO: No primeiro momento não fez sentido para muita gente Neil Labute fazer um remake de "The wicker man". O que o atraiu no projeto?NEIL LABUTE: A chance de fazer algo diferente, creio - a possibilidade de trabalhar dentro de um novo gênero explorando muitos temas que já me interessam há algum tempo. Gostei do filme original, mas senti que alguém podia fazer uma versão bastante diferente. Muitos críticos tentaram provar que eu estava errado. Dito isso, estou feliz com o resultado do filme. Acho que se pode abordar este filme em seus próprios termos e ainda ver que estou envolvido devido a alguns toques técnicos e literários.

Foi um problema para você fazer um filme que fala do paganismo em nossos dias? É difícil discutir religião atualmente na América?Certamente não falamos tanto quanto no filme anterior. Substituímos a maior parte do conflito religioso pelo ancestral conflito entre homens e mulheres. Mas eu acho, sim, que é difícil falar de religião neste país, mas pode ser pior ainda em outros lugares. Em geral ainda permitimos crenças e opiniões pessoais. Não saímos jogando bombas ou degolando a primeira pessoa que discorda de nós. Certamente tocamos no assunto, mas o filme original é que trata de maneira mais clara deste tema.

Por que decidiu escalar Nicolas Cage que é visto como um ator de Hollywood?Nicolas estava ligado ao material antes da minha chegada, por isso nunca houve qualquer dúvida de que seria o protagonista. Isto posto, ele seria uma escolha perfeita se eu tivesse que fazer a escalação. Ele tem a mistura certa de personagem herói e personagem ator para viver o personagem estranho que criei. Nicolas é um ator tão forte que pode se tornar praticamente qualquer um. Eu precisava de um homem que pudesse ser um policial, mas também um homem frustrado pelo amor, alguém que pudesse ser assustado, um pai, um moribundo etc. Nicolas tem uma maneira única de interagir com o público, que embarca no que ele propõe.

Alguns críticos escreveram que o filme também é uma piada dirigida aos fãs de filmes de terror. Isto faz algum sentido para você?Acho que certamente vai contra as convenções da maior parte dos filmes do gênero - não usa nenhuma das ferramentas comuns como monstros e assassinos e quase nada dos cenários favoritos, como paisagens noturnas e casas mal assombradas. Tentamos satirizar um pouco os temas de macho e fêmea, bem como o modo como essas produções se desenrolam, mas, infelizmente, o filme foi mais vendido como uma produção padronizada de terror, o que confundiu boa parte do público.

"O sacrfício" também, foi acusado de ser contra as mulheres devido às cenas violentas. Opiniões como essas lhe aborrecem?Acho que muitas mulheres podem ficar zangadas. Elas podem ficar zangadas com o fato de as mulheres finalmente mandarem matar logo de cara um sujeito que não as compreende. Decidi pegar o touro pelos chifres porque sempre fui chamado de misógino e fiz um filme que vai às raízes desta questão. O objetivo também é divertir, mas acho que nem todos ficarão felizes.

"Na companhia de homens" completa uma década ano que vem. Como é sua relação com o filme hoje em dia? Qual foi a última vez que o assistiu?Ainda me sinto bem em relação ao filme. Gosto de quase todas as escolhas que fiz na produção (com exceção de algumas tomadas que cortaria) e acho que ainda tem uma certa força simples na história e na narrativa. Também gosto do visual, depois de tanto tempo. Vi pela última vez há um ano ou mais.

"Na companhia de homens" revelou Aaron Eckhart, que está por toda parte hoje em dia. Você não acha que levou muito tempo para que o reconhecessem como um grande ator?A grandeza nem sempre é imediatamente reconhecida. Aaaron tem o semblante de um protagonista e a qualidade artística de um grande ator de personagem: o cara pode viver quem quiser. Por isso mesmo levou tanto tempo para que o conhecessem porque ele muda radicalmente de aparência de papel em papel. Acho que ele ainda vai ser muito mais reconhecido.

Você conhece algo da dramaturgia brasileira? Um autor, Nelson Rodrigues, um clássico aqui, tem muitas coisas em comum com suas peças.Sinto dizer que sou bastante ignorante sobre esses assuntos, mas farei o possível para me informar agora que você me alertou. Gostaria de ler sobre seus artistas, no cinema e no teatro. Este autor Rodrigues me parece interessante.

Qual o seu próximo filme?No momento estou fazendo teatro. Uma peça minha acaba de estrear em Nova York ("Wrecks", com Ed Harris) e estou me preparando para levar minha peça "Fat pig" a Londres em breve. Não sei qual será o próximo filme, mas estou examinando diversos scripts e estou sempre escrevendo. Também estou interessado em televisão, onde se tem a possibilidade de deixar os personagens se desenvolverem por longos períodos de tempo.

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