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Francisco (João Gabriel Vasconcellos) e Thomás (Rafael Cardoso): relação muito delicada | Divulgação
Francisco (João Gabriel Vasconcellos) e Thomás (Rafael Cardoso): relação muito delicada| Foto: Divulgação

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Incesto e homossexualidade em um mesmo filme podem resultar numa mistura indigesta. Mas no longa-metragem brasileiro Do Começo ao Fim (assista ao trailer e veja as fotos), de Aluízio Abranches, não é o que ocorre. O que não significa que isso seja uma qualidade. Na verdade, a tentativa de tratar de temáticas tão adultas e complexas de uma forma, digamos, mais acessível e natural não deu muito certo.

A primeira metade da história é até interessante. Júlia Lemmertz, grande atriz que é, dá credibilidade ao papel de Julieta, mãe de dois meninos, Francisco (Lucas Coltrin), do primeiro casamento com o argentino Pedro (Jean-Pierre Noher), e Thomás (Gabriel Kaufmann), de sua atual união com Alexandre (Fábio Assunção). Os dois meninos são muito unidos, não se largam nunca, a ponto de essa proximidade gerar preocupação de que possa existir en­­tre eles mais do que mero amor fraterno.

Em uma das melhores cenas do filme, Julieta e Pedro, depois de uma temporada dos garotos em Buenos Aires, discutem sobre o assunto e o pai de Francisco, tendo percebido o forte elo afetivo entre o filho e o irmão, diz temer que um dia os meninos acabem por sexualizar esse amor.

Dessa premissa não muito pa­­latável para todos os tipos de pú­­blico, mas sem dúvida intrigante, já que esse tipo de situação pode, sim, acontecer, deriva uma tentativa louvável, porém fracassada, de criar um melodrama. Esse gênero, assumidamente popular, já rendeu à história do cinema grandes filmes, de Douglas Sirk, nos anos 50, a Pedro Almodóvar. E, para falar de questões familares então, pode ser terreno muito fértil, pelo forte apelo que exerce junto a todo tipo de espectador. Mas, em Do Começo ao Fim , o esforço de utilizá-lo resulta artificial.

Já adultos, Francisco (João Gabriel Vasnocellos) é médico, como a mãe, e Thomás (Rafael Cardoso, atualmente no ar como o amante jovem de Marília Gabriela na minissérie Cinquentinha), nadador. Quando Julieta mor­­re e Alexandre decide se mudar, os rapazes podem, finalmente, viver plenamente uma história de amor que, presume-se, já teria sido consumada no plano físico há algum tempo. E daí o filme desanda.

Diálogos risíveis, situações até certo ponto inverossímeis, e, sobretudo, a tentativa de lidar com um assunto tão delicado com uma naturalidade fora da realidade torna toda a segunda metade do longa um tanto frustrante. Não é difícil crer que Francisco e Thomás se gostam de verdade, já que há visível química entre os dois atores/personagens. É bem verdade que os atores parecem saídos do cast de uma agência de modelos, mas isso é até perdoável. Em momento algum, contudo, eles convencem como irmãos, também por conta de um salto temporal abrupto demais que os apresenta como amantes meio na lata, sem uma construção dramática convincente.

Diretor do também ousado e supererótico, porém bem mais consistente, Um Copo de Cólera, baseado na obra de Raduan Nassar, Abranches tem o mérito de mexer em um vespeiro poucas vezes abordado em qualquer cinematográfia do mundo. Mas errou ao não discutir mais a fundo todas as implicações, conflitos e dores inevitáveis decorrentes de um amor tão único como o de Francisco e Thomás. GG

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