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Roberto Carlos 50 anos

Do grotesco ao sublime

Os álbuns da década de 1970 são recheados de grandes canções | Divulgação
Os álbuns da década de 1970 são recheados de grandes canções (Foto: Divulgação)
Roberto Carlos no Cinema |

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Roberto Carlos no Cinema

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Nem João Gilberto nem Odair José. Mas capaz de agradar do porteiro do prédio ao endinheirado morador da cobertura. Analisar o mito Roberto Carlos e sua importância na história cultural do país não é tarefa fácil. Para isso, o Caderno G Ideias ouviu um dos maiores especialistas no Rei, o historiador fluminense Paulo Cesar Araújo, autor da biografia Roberto Carlos em Detalhes, livro publicado editora Planeta e recolhido do mercado em 2007por ordem judicial, depois de ação movida pelo cantor.

Segundo Araújo, não é possível discutir a relevância de Roberto Carlos sem contextualizá-lo do ponto de vista histórico. Até seu surgimento, todos os grandes nomes da música brasileira estavam de alguma forma alinhados com o que se convencionou chamar de "identidade nacional". Eram ligados a ritmos como o samba, a marchinha, o baião. De Carmen Miranda ao próprio João Gilberto, passando por Francisco Alves, Orlando Silva, Emilinha Borba, e Luiz Gonzaga.

"O Roberto era diferente, não fazia uma música identificada pelos críticos como brasileira. Talvez por isso tenha sido rejeitado pelas elites intelectuais", afirma Araújo, para quem essa "não-brasilidade" do Rei também é passível de questionamento. "O Roberto, como descendente de João Gilberto que é, pertence a uma linhagem de cantores brasileiros pós-bossa nova, como Caetano Veloso, que não tinham mais a dramaticidade e o vozeirão de um Francisco Alves, de um Orlando Silva. Depois de Roberto, cantores românticos com grandes dotes vociais, como Aguinaldo Rayol e Aguinaldo Timóteo, pareceram anacrônicos. "

E se, do ponto de vista formal, o pop-rock da Jovem Guarda e as canções românticas de Roberto Carlos talvez não encontrem suas raízes na matriz "luso-afro-brasileiras", o cantor e compositor, por meio de sua sensibilidade e de sua sofrida história de vida, atingiu em cheio o público de todas as classes sociais.

Para Araújo, há algumas possíveis explicações para o surgimento e a longevidade do mito criado em torno de Roberto Carlos. Uma delas, a mais óbvia, é seu inegável carisma. A outra é a habilidade de usar sempre a seu favor o disco, o rádio, a televisão (com o histórico programa da Jovem Guarda e os especiais na Rede Globo) e o cinema (leia quadro nesta página).

Nada, contudo, justifica melhor o longo reinado de Roberto mais do que a qualidade e apelo popular das canções. A começar por "Quero Que Tudo Mais Vá para o Inferno", apontado pelo biógrafo como marco incial do culto ao cantor, até "Café da Manhã", passando por "Detalhes", "A Distância", "Fera Ferida" e dezenas de outros sucessos, a dupla foi capaz de ir do grotesco de "Cama e Mesa" ("Quero ser o sabonete que te alisa embaixo do chuveiro") ao sublime de "Você" ("Você, que ontem me sufocou/ De amor e de felicidade/ Hoje me sufoca de saudade").

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