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Os álbuns da década de 1970 são recheados de grandes canções | Divulgação
Os álbuns da década de 1970 são recheados de grandes canções| Foto: Divulgação

Obra é maior do que seu autor

Uma década voltada à pesquisa e à escritura de Roberto Carlos em Detalhes proporcionaram ao historiador Paulo Cesar Araújo uma visão bastante complexa do homem por trás do ídolo popular. "Tenho absoluta certeza de que tanto no caso dele com no de qualquer artista, sua obra é mais importante e relevante, é maior, do que a pessoa".

Para o biógrafo, que é professor da rede pública estadual em Niterói (RJ), dois eventos marcaram e moldaram tanto o ser humano quanto o artista Roberto Carlos. O primeiro foi o acidente em 1949, no qual o cantor, ainda menino, perdeu a perna. "Naquele momento nasceu seu lado místico, religioso, supersticioso." O outro, no âmbito musical, teria sido a descoberta do canto pequeno, intimista e revolucionário de João Gilberto. "Foi quando percebeu que havia lugar um intérprete como ele."

É claro que foi traumático para Araújo o entrevero judicial em torno da biografia, que teve 11 mil cópias de sua segunda edição recolhidas e encaminhadas pelo cantor a um depósito num de seus imóveis, na cidade de Santo André. "Roberto Carlos não lê, Ele assiste a novelas, a telejornais, mas não tem o hábito da leitura."

O futuro de Roberto Carlos em Detalhes ainda é incerto. O autor aguarda o resultado de novo recurso junto à Justiça para a liberação do livro.

  • Roberto Carlos no Cinema
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Nem João Gilberto nem Odair José. Mas capaz de agradar do porteiro do prédio ao endinheirado morador da cobertura. Analisar o mito Roberto Carlos e sua importância na história cultural do país não é tarefa fácil. Para isso, o Caderno G Ideias ouviu um dos maiores especialistas no Rei, o historiador fluminense Paulo Cesar Araújo, autor da biografia Roberto Carlos em Detalhes, livro publicado editora Planeta e recolhido do mercado em 2007por ordem judicial, depois de ação movida pelo cantor.

Segundo Araújo, não é possível discutir a relevância de Roberto Carlos sem contextualizá-lo do ponto de vista histórico. Até seu surgimento, todos os grandes nomes da música brasileira estavam de alguma forma alinhados com o que se convencionou chamar de "identidade nacional". Eram ligados a ritmos como o samba, a marchinha, o baião. De Carmen Miranda ao próprio João Gilberto, passando por Francisco Alves, Orlando Silva, Emilinha Borba, e Luiz Gonzaga.

"O Roberto era diferente, não fazia uma música identificada pelos críticos como brasileira. Talvez por isso tenha sido rejeitado pelas elites intelectuais", afirma Araújo, para quem essa "não-brasilidade" do Rei também é passível de questionamento. "O Roberto, como descendente de João Gilberto que é, pertence a uma linhagem de cantores brasileiros pós-bossa nova, como Caetano Veloso, que não tinham mais a dramaticidade e o vozeirão de um Francisco Alves, de um Orlando Silva. Depois de Roberto, cantores românticos com grandes dotes vociais, como Aguinaldo Rayol e Aguinaldo Timóteo, pareceram anacrônicos. "

E se, do ponto de vista formal, o pop-rock da Jovem Guarda e as canções românticas de Roberto Carlos talvez não encontrem suas raízes na matriz "luso-afro-brasileiras", o cantor e compositor, por meio de sua sensibilidade e de sua sofrida história de vida, atingiu em cheio o público de todas as classes sociais.

Para Araújo, há algumas possíveis explicações para o surgimento e a longevidade do mito criado em torno de Roberto Carlos. Uma delas, a mais óbvia, é seu inegável carisma. A outra é a habilidade de usar sempre a seu favor o disco, o rádio, a televisão (com o histórico programa da Jovem Guarda e os especiais na Rede Globo) e o cinema (leia quadro nesta página).

Nada, contudo, justifica melhor o longo reinado de Roberto mais do que a qualidade e apelo popular das canções. A começar por "Quero Que Tudo Mais Vá para o Inferno", apontado pelo biógrafo como marco incial do culto ao cantor, até "Café da Manhã", passando por "Detalhes", "A Distância", "Fera Ferida" e dezenas de outros sucessos, a dupla foi capaz de ir do grotesco de "Cama e Mesa" ("Quero ser o sabonete que te alisa embaixo do chuveiro") ao sublime de "Você" ("Você, que ontem me sufocou/ De amor e de felicidade/ Hoje me sufoca de saudade").

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