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Martinho da Vila: embora tenha viajado o mundo fazendo shows, o interior do estado do  Rio é seu eterno habitat | Divulgação
Martinho da Vila: embora tenha viajado o mundo fazendo shows, o interior do estado do Rio é seu eterno habitat| Foto: Divulgação

Opinião

Superficial e confuso

Cristiano Castilho, repórter da Gazeta do Povo.

Com rica história na vida e na música, Martinho da Vila merecia melhor sorte ao decidir resgatar seus feitos e colocá-los em um filme. A importância do homem mais famoso da Vila Isabel, no Rio de Janeiro, é ofuscada por depoimentos rasos e previsíveis e amarrada de uma maneira confusa e quase aleatória.

Não há, por exemplo, uma voz analítica que explique mais a fundo a revolução que Martinho ajudou a fundamentar – aquela de levar o samba do morro às ruas, iniciada por grandes nomes como Cartola e Noel Rosa. Os depoimentos dos filhos e amigos soam entediantes e repetitivos. A simplicidade autêntica do sambista é transformada em documentário preguiçoso.

O mais interessante é quando as portas se abrem e Martinho sai de seu cantinho. As entrevistas realizadas em Portugal, por exemplo, agitam um pouco a linha narrativa do filme, que poderia ser grande, à altura de seu documentado, mas não é. GG

  • Em estúdio com Ana Carolina, gravando a música

Ele nasceu no interior do Rio de Janeiro, ganhou fama, dinheiro, conheceu o mundo, mas nunca se esqueceu do seu cantinho. Já se sabia que Martinho da Vila é um cara "família". A simplicidade, na vida e no palco, é característica marcante do sambista e o documentário Filosofia de Vida – O Pequeno Burguês, de Edu Mansur, serve para reafirmar isso.

"Já vi e já gostei. Ficou uma coisa tipo eu: bem simples mesmo", diz o cantor e compositor, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo. Com mais de 30 anos de carreira, a ideia de resgatar grandes momentos da vida artística do sujeito mais conhecido da Vila Isabel surgiu depois de um show específico. "Já tinha combinado com outro diretor, mas aí ele resolveu morrer", brin­­ca Martinho. Junto com o filme, um CD com regravações dos maiores sucessos do cantor também está no mercado.

O diretor musical Marco Mazzola, que já havia trabalha­­­­do com o sambista no DVD Pequeno Burguês, gravado ao vivo no Teatro Decap, em São Paulo em 2008, foi novamente chamado para participar do novo trabalho. "Estava conversando com Mazzola sobre essas coisas todas. Depois da conversa, ele falou: sua vida dá um filme", lembra o carioca.

Ao natural

O tom do documentário é leve. Não há um roteiro específico, e sim um Martinho da Vila caminhando por ruelas da cidade que conhece bem, conversando com a vizinhança, batendo um papo e molhando o bico com amigos. "Vamos fazer o traba­­­­lho com você solto, andando por aí. Foi o que me disseram", explica o músico – que neste ano também lançou, pelo selo Biscoito Fino, um disco em homenagem a Noel Rosa.

Há informações importantes, desvendadas ao longo do filme. A fazenda paupérrima onde nasceu, por exemplo, hoje é ocupada pelo Instituto Martinho da Vila. A entidade criada pelo músico presta assistência à cri­­anças carentes da região.

Em relação aos depoimentos, não há tantas novidades. Seus filhos, em especial Mart’nália, falam sobre o pai. Descobre-se que, no convívio com a família, ele é um sujeito de pouca fala, de difícil acesso. Há depoimentos de amigos – do sambista Dudu Nobre ao político Aécio Neves entre eles –, que engordam a película.

O que há de surpresa são as cenas registradas em viagens. Martinho promoveu importante trabalho na África, por exemplo. Em Portugal, a julgar pelas imagens, é mais conhecido do que Cristiano Ronaldo. "Voltamos para lá para fazer essas tomadas. O pessoal me seguiu o tempo todo", conta.

Incansável aos 72 anos, Martinho da Vila já planeja o lançamento de Palavra de Sambista, seu novo livro. "Será como se eu estivesse dando entrevista para você. A diferença é que eu pergunto e eu mesmo respondo", brinca o músico, no conforto de seu cantinho.

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