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Cena do filme "Rita Cadillac – A Lady do Povo" | Divulgação
Cena do filme "Rita Cadillac – A Lady do Povo"| Foto: Divulgação

As gerações mais novas talvez só tenham ouvido falar de Rita Cadillac como uma estrela de filmes pornográficos. Talvez nem imaginem como, muito antes de qualquer mulher-fruta mostrar seus atributos físicos na televisão, Rita e suas colegas chacretes roubavam a cena nos programas do apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Também talvez não saibam que a chacrete, que ficou mais conhecida a partir da década de 1970, tenha muito mais inteligência a oferecer do que muitas beldades do momento.

É o que fica comprovado no documentário Rita Cadillac - A Lady do Povo (veja trailer e fotos). Dirigido por Toni Venturi ("Cabra Cega", "Dia de Festa"), "Rita Cadillac - A Lady do Povo" é um documentário com um claro propósito: desmistificar a figura da biografada.

"Botei na cabeça que eu era a poderosa do programa. Construí um personagem", diz ela, no começo do filme. Para cumprir o prometido, vemos Rita Cadillac não só rebolando em imagens de arquivo, mas, como ela mesma insiste em ser chamada, a Rita de Cássia cozinhando e comprando água de lavadeira na porta de casa. Quem em plena efervescência sensual das chacretes poderia pensar numa imagem dessas? Mas Venturi mostra, sem pudor algum.

Pudor, aliás, não falta também nas confissões de Rita -- seja na época em que admite ter feito programas sexuais para sobreviver, antes de entrar para a televisão, ou revelando um affair de "duas noites de amor e pronto" com o rei Pelé. Bem mais emocionantes são as recordações da infância da dançarina, que foi criada pela avó e estudou em colégio de freiras.

"Eu não consigo ser Rita Cadillac 24 horas por dia", diz ela, ao se despir da personagem e mostrar o que existe por baixo do mito que até hoje é conhecido como a Rainha do Bumbum ou Lady do Povo -- apelido criado pelo cineasta Djalma Limongi Batista, com quem ela fez "Asa Branca - Um Sonho Brasileiro" (1980), contracenando com Edson Celulari.

Entrevistados como Rogéria (que diz: "Ela tinha muito talento"), o diretor Hector Babenco ("Na próxima encarnação, quero nascer Rita Cadillac") e o médico Dráuzio Varella ("Ela é uma artista") ressaltam a trajetória da dançarina e os reflexos de sua passagem na cultura popular brasileira.

Ao longo de sua carreira, que começou em 1974 como chacrete, Rita Cadillac explorou diversas possibilidades, algumas até absurdas, e não esconde isso. Como quando, em meados da década de 1980, gravou a música pegajosa "É Bom para o Moral" e lançou um disco com apenas duas músicas. Seu empresário na época, Luis Andrade, queria que fizesse shows. A própria Rita ri do absurdo no filme, quando diz: "Fazer show com apenas duas músicas?". A cara dela, ao fazer esse comentário, é impagável.

Ao contrário de "Alô, Alô, Terezinha", de Nelson Hoineff, outro documentário onde ela também aparece, "Rita Cadillac - A Lady do Povo" nunca investe na exploração de uma figura exótica -- em outras palavras, nunca transforma o filme num freak show. Rita, seus percalços, seus altos e baixos, são encarados com a maior naturalidade e com carinho. Ou seja, como qualquer ser humano, comemorando conquistas e enfrentando dilemas e derrotas.

Em épocas de Big Brother, celebridades virtuais e famas de curtíssima duração, Rita Cadillac mostra como se reinventou ao longo das décadas, com uma receita que soma muito trabalho, simpatia, talento, beleza e um bocado de generosidade.

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