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Cinema

Documentários ajudam a dar um sentido ao mundo

Amir Labaki, organizador do livro “A Verdade de Cada Um”, fala sobre a importância do cinema de não ficção numa rotina de “algaravia informacional”

Cena de “Nanook do Norte” (1922), clássico de Robert J. Flaherty. | Divulgação
Cena de “Nanook do Norte” (1922), clássico de Robert J. Flaherty. (Foto: Divulgação)

O festival de cinema É Tudo Verdade acaba de completar 20 anos e continua com seu criador, Amir Labaki , na curadoria.

O evento anual ocorre em São Paulo e seleciona para exibição dezenas de documentários do mundo todo – trabalho que fez de Labaki uma referência no assunto.

Como que para marcar as duas décadas da mostra, acaba de estrear uma série no Canal Brasil em que Labaki entrevista cineastas brasileiros ligados ao gênero (sempre às quartas-feiras, às 23h30) e de publicar, pela Cosac Naify, “A Verdade de Cada Um”, uma antologia de 32 textos sobre cinema de não ficção, feitos por figuras importantes como Robert Flaherty, Eduardo Coutinho e João Moreira Salles.

Na entrevista a seguir, feita por e-mail, Labaki fala sobre por que esta é uma época extraordinariamente boa para documentários. “[Eles ajudam] a buscar um sentido no mundo a partir de um ponto de vista específico”, explica.

A dificuldade de explicar o que é um documentário – ou as características que ele tem – é recorrente nos depoimentos reunidos em “A Verdade de Cada Um”. Na sua opinião, por que essa é uma pergunta tão difícil de responder?

Creio que a dificuldade vincula-se tanto à variedade quanto à dinâmica formal do documentário. Desde as origens, felizmente menos garroteada pelas exigências industriais do cinema ficcional, a produção documental tem por uma de suas marcas centrais sua adaptabilidade expressiva às características de cada realizador.

Existem respostas para a questão – O que é um documentário? – que mais se aproximam do que você pensa a respeito do gênero? Quais são elas?

A inexistência de uma fórmula definidora única e simples me parece um dos fascínios do gênero. Acho belas duas tentativas polares de definição, para ficar apenas em dois exemplos: a pioneira, de John Grierson, que define o documentário como “o tratamento criativo da realidade”, e uma das mais recentes, de João Moreira Salles, no texto presente antologia, em que diz: “observada a presença de certa estrutura narrativa, será documentário todo filme em que o diretor tiver uma responsabilidade ética para com seus personagens”. A de Grierson é mais estética e includente, a de João mais ética e excludente.

Os 20 anos do É Tudo Verdade, a força de outros festivais, o espaço dado a documentários nas salas de cinema e o impacto causado por alguns filmes (como “Citizenfour”) parecem exemplos de uma época extraordinariamente boa para o documentário. Essa ideia faz sentido para você?

Sim, é um período particularmente rico e complexo na história do documentário. Um dos fatores é o impacto estético e produtivo da recente revolução digital. Acho porém que o fenômeno transcende a esfera audiovisual, alcançando também outras artes (literatura, teatro, música, artes visuais etc.). A algaravia informacional de nossa era aumentou a perplexidade frente ao mundo e narrativas não ficcionais têm funcionado como oásis iluministas, ajudando a buscar um sentido no mundo a partir de um ponto de vista específico.

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