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Presente

• A Farândola Troupe começou com uma pesquisa de espaços para apresentações cênicas, como piscinas e espetáculos de rua. Hoje, os atores Armando Júnior e Neto de Oliveira estão concentrados no projeto de humor Um é Pouco, Dois é Ótimo, sobre a formação das duplas cômicas brasileiras.

• A parceira dos atores com Hugo Possolo já dura mais de uma década. Para comemorar os 14 anos da dupla de palhaços, os dois pediram a Possolo um texto para encenar e receberam Eu Odeio Kombi. "Como ele nos conhece há muito tempo, o texto brinca muito com a gente. Foi um presente", conta Neto.

Nos anos 80, os amigos Jairo Mattos e Hugo Possolo disputaram o mesmo papel para uma peça de teatro infantil. A produção ofereceu a eles dois empregos: um como ator e outro como motorista. Possolo assumiu o papel e Mattos a direção de uma Kombi. Foram muitas viagens pelo interior e pela periferia de São Paulo, em que os dois conversaram sobre a vida e acumularam histórias, como a vez em que racharam o motor do veículo. "Sofri no banco da Kombi", conta Possolo. "Pensei: Puxa, eu odeio Kombi!". Pronto, estava escolhido o título da tragicomédia que estrearia no Festival de Teatro de Curitiba quase duas décadas depois – escrita pelo ator, palhaço e dramaturgo Hugo Possolo e dirigida por Jairo Mattos.

Embora seja uma estréia, Eu Odeio Kombi já chega com referências. Pretende "pôr o dedo na ferida", como a montagem que Possolo apresentou no festival do ano passado, quando provocou a platéia com o humor ácido de Prego na Testa, a questionar a comodidade e as pequenezas humanas. "As duas peças mostram um pouco as nossas idiossincrasias, a hipocrisia de uma sociedade que não consegue olhar para si mesma. O teatro põe as pessoas diante do espelho, vendo como reagem. Eu Odeio Kombi também provoca essa auto-crítica", compara o autor.

O comportamento refletido dessa vez é o desajuste, explorado pela faceta desajeitada e patética dos palhaços. São dois em cena, às voltas com uma Kombi que quebra em pleno deserto. Sozinhos, Osvaldão (Armando Júnior) e Nandinho (Neto de Oliveira) – o motorista e o ajudante – insistem na empreitada de consertar o velho veículo, mesmo que a cada 500 metros a Kombi pare de funcionar novamente. O trajeto tortuoso e interrompido dá tempo para que esses dois homens avaliem suas vidas e percebam os próprios fracassos. "Eles se propuseram muito pouco e nem isso deu certo", resume Possolo.

A espera prolongada por alguém que os tire da situação incômoda é um dos sinais da influência beckettiana no espetáculo. Esperando Godot, de Samuel Beckett, e Dois Perdidos numa Noite Suja, de Plínio Marcos, serviram de inspiração a Possolo para escrever o texto, mas o autor tem reservas em relação ao irlandês. "Não gosto dessa coisa cética niilista de não ter saída e achar que a vida é chata. Sou mais Plínio que Beckett, porque o brasileiro deixa uma réstia de luz na escuridão", admite. Frente ao inconformismo, à reavaliação da vida e à busca de sentido, Osvaldão e Nandinho não desistem. Seguem em frente.

"Inicialmente, a idéia era levar o espetáculo para a rua, mas percebemos que ficaria mais interessante no teatro. A Kombi explode, inunda... Os efeitos são mais bem realizados e o público pode ouvir melhor os diálogos, que são muito sutis", explica Mattos. O teatro que imaginava ao conceber a peça era o tradicional palco italiano, em que o público mantém-se distante. A montagem em Curitiba, entretanto, teve que se adaptar às características de um espaço diferente, a Casa Vermelha. "O espetáculo vai ficar mais intimista, é até mais interessante.", diz o diretor.

Serviço: Eu Odeio Kombi. Casa Vermelha (Largo da Ordem, s/n.º), (41) 3321-3300. Hoje e amanhã, às 20h30. Ingressos a R$ 26 e R$ 13 (meia-entrada).

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