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O diretor Costa-Gavras e o ator Riccardo Camurcio, astro de Éden a l´Ouest: discussão sobre a Europa tomada por imigrantes | Divulgação
O diretor Costa-Gavras e o ator Riccardo Camurcio, astro de Éden a l´Ouest: discussão sobre a Europa tomada por imigrantes| Foto: Divulgação

O Cine PE Festival Audiovisual de Recife teve início na segunda-feira (27) com a estreia nacional do 17º longa-metragem do cineasta grego naturalizado francês Constantin Costa-Gavras, Éden a l’Ouest (2009).

Antes da exibição do filme, ele e sua esposa, Michele Gavras, produtora do filme, subiram ao palco do Cine-Teatro Guararapes para receber o troféu Calunga de Ouro, concedido anualmente aos homenageados do evento. "Nunca estive em Recife, fiquei muito honrado pelo convite", disse o diretor de 76 anos.

Éden a l’Ouest, lançado no Festival de Berlim deste ano, toma como modelo as epopeias gregas para abordar um tema que é o grande debate da Europa contemporânea: a imigração ilegal. Elias, um jovem de origem indefinida (o italiano Riccardo Camurcio, de Meu Irmão É Filho Único), parte em uma viagem clandestina rumo à cidade dos seus sonhos, Paris – o éden que entitula o filme.

Como em uma comédia de erros, ele se depara, em sua jornada às cegas, com uma série de obstáculos que, por vezes, beiram o pastiche. A primeira delas é quando ele acorda na areia, após pular de um navio cheio de imigrantes interceptado pela polícia, e se depara com um grupo de pessoas nuas na praia. Ele está num resort de luxo de um país desconhecido, do qual terá sérias dificuldades para sair – incluindo mulheres e homens que o assediam sexualmente.

Opção afirmativa

A escolha pelo riso – o que agradou a plateia do Cine PE – foi proposital e distancia o filme das obras mais significativas do cineasta, como Z (1969) e Missing – Desaparecido (Missing, de 1982), de carga mais política e que abordam as ditaduras políticas na Grécia e no Chile.

"Tentei fazer um filme diferente de tudo o que fiz antes. O tema da imigração produziu inúmeros filmes, todos muito dramáticos. Muito drama nas telas acaba fazendo com que as pessoas se amedrontem e, para mim, os imigrantes não trazem medo. Ao contrário, é gente que pode criar outro tipo de cultura, mudar a sociedade", disse Gavras em entrevista concedida ontem aos jornalistas presentes no festival.

Ele conta que o filme é uma metáfora sobre a sociedade atual – principalmente a europeia. "As cenas não foram feitas somente com o sentido de fazer avançar a história. Cada uma delas fala sobre uma questão que vivemos hoje na Europa." Discute-se o preconceito, a exploração sexual e da mão-de-obra estrangeira e o desejo do ser humano de seguir em frente, realizando seus sonhos, em um thriller que, para Costa-Gavras, "é como a vida".

"Cinema é espetáculo, a gente não vai ao cinema para receber lição, mas para chorar, rir, odiar, amar", diz. Ele explica que usa o thriller, no entanto, somente quando acha que é necessário para o filme. Em Estado de Sítio (1972), por exemplo, sobre o sequestro de um oficial da Agência de Desenvolvimento Internacional norte-americano por um grupo de guerrilheiros uruguaios, na década de 1970, evitou o recurso. "O conteúdo político era mais importante, o thriller podia dar ao espectador uma direção distinta daquela desejada."

Gavras considera os tempos de hoje mais propícios ao surgimento de filmes engajados. "Nos últimos anos 15, 20 anos, o panorama mudou muito. Antes, havia dois grupos: os comunistas, no Leste, e aqueles que aparentemente tinham mais liberdade, no Oeste, algo em que nunca acreditei muito. Tínhamos que tomar posições muito claras", diz.

A vida em meio a momentos político-sociais turbulentos, e não a formação acadêmica do cineasta (que estudou Literatura e Cinema em Paris), contribui para o tom sempre crítico de sua cinematografia. "Nasci em um país que foi ocupado pelos nazistas, onde houve uma Guerra Civil tremenda, vivenciei a Guerra Fria e governos conservadores. Quis fazer filmes que não vi estudando cinema. Achava que faltava algo e eu conhecia bem estas histórias."

Autor de dois filmes que têm a América Latina como cenário, os longas-metragens Missing e Estado de Sítio, Gavras diz que o continente é, para ele, "um laboratório social e político". Em viagens que fez pela região, descobriu "temas modernos" que originariam esses filmes, considerados suas obras-primas, e conheceu o então presidente chileno Salvador Allende. "Ele me parecia um homem completamente humano, que queria mudar seu país em uma direção democrática." * * * * * * * *

A repórter viajou a convite do Cine PE.

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