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Começou como uma brincadeira, mas já virou ritual: antes de começar a rodar um filme, o diretor curitibano Murilo Hauser e sua equipe assistem (mais uma vez) a Crepúsculo dos Deuses, filme de 1950 dirigido pelo americano Billy Wilder, que repensa o cinema dentro do próprio cinema. "Só a partir daquele momento a gente está oficialmente trabalhando", conta Hauser, que lançou no começo deste mês o curta-metragem Outubro, e que acaba de ganhar um edital da Petrobrás para realizar um projeto de animação. O filme de Wilder serve para dar aquela "sensação de cinema" na equipe, explica.

Nascido em 1981 e trabalhando com cinema desde 1999, Hauser faz parte de uma nova geração de diretores de cinema que se preocupa em construir trabalhos mais autorais, com linguagem própria.

Atualmente, ele desenvolve dois projetos de animação: Entre Silêncios e Sombras, em curso desde 2004 e que ganhou, no final do ano passado, o edital do Ministério da Cultura; e Meu Medo, que acaba de entrar no edital da Petrobrás para financiamento pela Lei Rouanet. As animações fazem partem parte de uma triologia que brinca com a idéia de suspense e terror psicológico visto pela ótica de um garoto.

Entre Silêncios e Sombras está em fase de finalização de luzes e textura (a animação é em 3D) e tem previsão de lançamento entre outubro e novembro deste ano. "Animação é um trabalho bem diferente e leva bastante tempo", afirma Hauser, que vê no gênero a possibilidade infinita de criação artística, "o difícil é saber exatamente o que você quer".

Em Meu Medo, realizado ao lado do artista gráfico Henrique Martins, um garoto que habita uma casa esmagada entre dois edifícios vê sua pacata rotina alterada quando sons estranhos começam a aparecer pela casa.

Hauser trabalha também como diretor assistente da Sutil Companhia de Teatro, de Felipe Hirsch, Guilherme Webber e Erica Migon, que atualmente está em cartaz em São Paulo com a peça A Educação Sentimental do Vampiro, baseada na obra de Dalton Trevisan. "O que mais me atrai no teatro é o processo de criação. Eu tento trazer muito do processo do teatro para o cinema", conta, ressaltando a importância do ator se envolver emocionalmente com o texto, algo muito mais forte no teatro que no cinema. "Mas são linguagem bem diferentes", esclarece.

No recém lançado Outubro, Hauser acompanha os últimos dias de vida de Ana, uma garota de 20 anos, através de fragmentos de seu cotidiano. "No cinema existe essa convenção que faz parecer que a câmera está lá sempre na hora certa: na hora do beijo, na hora que o telefone toca, que a bomba explode, etc. A câmera está lá esperando as coisas acontecerem. Minha idéia era fazer um filme que acontecesse independente do que acontece na frente da câmera", explica o diretor.

Outubro se constrói em cima de silêncios e de elipses, tratando com delicadeza o tema do suicídio. Assim como em outros trabalhos do diretor, estão em jogo as sensações provocadas no espectador e a relação tempo/espaço. "É a procura de um tempo independente de um tempo real. Queria que as coisas que acontecem entre um plano e outro fossem mais importantes do que as que acontecem dentro do plano", conta Hauser, que já enviou o curta para festivais no Brasil e no exterior. O filme foi viabilizado pelo Edital de Vídeo Digital da Fundação Cultural de Curitiba, em 2006.

O diretor, que antes de Outubro sempre havia realizado seus projetos de forma independente, acredita que as leis de incentivo possibilitam uma melhoria significativa na qualidade das produções. Sobre projetos de longas-metragens, Hauser não tem pressa. "As duas animações me tomam muito tempo. Estou começando a produzir roteiros de longa, mas com bastante calma", conclui.

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