• Carregando...
David Carr era o colunista de mídia  do jornal The New York Times. | Reuters
David Carr era o colunista de mídia do jornal The New York Times.| Foto: Reuters

A morte inesperada do jornalista e colunista do jornal New York Times David Carr, no último dia 12 de fevereiro, me fez tirar da estante e enfrentar, pela segunda vez, seu livro A Noite da Arma, lançado no Brasil em 2012 pela editora Record.

Um livro perturbador. Especialmente se quem o lê tem algum histórico pessoal ou familiar de abuso de drogas e toda a circunstância trágica que isso implica. Algo, portanto, que toca muita gente.

Quem conheceu Carr em sua trajetória no jornalismo nos últimos, pelo menos, 20 anos em que escreveu sobre a própria mídia como ninguém, com clareza e inteligência invulgares, ou o viu roubar a cena sendo frágil e mentalmente brilhante no documentário Page One, de 2011 (sobre como o Times enfrenta a crise da imprensa nos EUA e no mundo), talvez nem consiga imaginar o passado barra pesada que o jornalista experimentou.

Ele mesmo não conseguia acreditar nem lembrar. Por isso, lançou-se numa odisseia em busca da própria vida. Ou daquela parte escondida em fundos falsos da memória que procuram fazer com que nos lembremos apenas das histórias com as quais conseguimos conviver – a tal noite que dá nome ao livro é o melhor exemplo.

Usando a técnica com que se produzem os melhores conteúdos jornalísticos, Carr entrevistou dezenas de pessoas e pesquisou em registros médicos e jurídicos numa autorreportagem cuja apuração durou três anos.

Ela mostra como um menino esperto de classe média se deixa cair no abismo das drogas pesadas e do submundo adjacente, perde tudo, recupera duramente a sanidade, mas segue condenado a andar sobre o fio da navalha eternamente. No fundo, A Noite da Arma é um texto corajoso, sarcástico e agudo – qualidades próprias daqueles assinados por Carr – em que, ao final, triunfa uma improvável esperança.

A saída de cena de Carr no auge da carreira e da vida que dizia não merecer não estava no programa. Fãs e leitores órfãos podem, enquanto aguardam que suas colunas sejam publicadas em uma antologia, ler ou reler esse relato extraordinário.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]