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Público vibra com show dos cubanos Barbarito Torres e Ignacio Mazacotte | Rubens Cavallari/Folhapress
Público vibra com show dos cubanos Barbarito Torres e Ignacio Mazacotte| Foto: Rubens Cavallari/Folhapress

As pernas doem. É de tanto gastar sapato pelas ruas centrais de uma São Paulo diferente. O sono bate forte. É devido ao ritmo de uma cidade que não para e que não te deixa parado. Eu era mais um entre os cerca de 330 mil turistas que vivenciaram as 24 horas de Virada Cultural, evento que teve sua sexta edição neste último fim de semana.

Ao circular por cerca de dez dos mais de 60 pontos onde a cultura é quem manda, foi possível perceber peculiaridades do evento. Sejam elas os números hiperbólicos típicos da metrópole – segundo a Secretaria de Turismo do estado, 4 milhões de pessoas circularam pelo Centro e foram movimentados R$ 115 milhões no período –, ou em situações únicas, talvez só experimentadas em um contexto como aquele. A elas.

Ver na Praça Júlio Prestes os cubanos Barbarito Torres e Ignácio Mazacotte – integrantes da formação original da banda Buena Vista Social Club – me fez voltar a Cuba, país em que visitei em setembro de 2009. Só faltou o mojito.

Já me enfurnar na Praça da República para participar do Baile do Simonal não foi uma boa ideia. No meio de uma das músicas em que Wilson Simoninha e Max de Castro dividiam as vozes, saí. E quase não voltei. Sofri uma tentativa de assalto, que, resumida e felizmente, terminou com um soco em minhas costelas. Isso mesmo em meio a muita gente e a sirenes implacáveis, que nunca pa­­ram de piscar.

A madrugada foi longa e inusitada. Comendo pão de queijo, aguardei a abertura do Cine Windsor, que às duas horas da manhã de domingo exibiu Godzilla – Terror of Mechagodzilla, filme de 1978 de Ishirô Honda. Parte do público dormia nas cadeiras duras e vermelhas. Parte aplaudia todo e qualquer efeito tosco que surgia na tela.

O caminhar pelas ruas, de madrugada, foi o mais revelador da Virada Cultural de 2010. Talvez seja a velocidade opressora da própria cidade. Quem sabe o exagero na animação. Quiçá o álcool ou as drogas – que provavelmente têm a ver com o assassinato do jovem de 17 anos, ocorrido na Avenida São João. Mas é impressionante ver o número de pessoas que cambaleiam sem rumo, que dançam descompassadamente loucas, que surgem sabe-se lá da onde te pedindo dinheiro, comida, um abraço ou um minuto de conversa. Nesse quesito, é preciso ter paciência, pelo menos por 24 horas.

Minha virada acabou no Bulevar São João, às 15 horas de do­­mingo. O grupo Medusa fazia um jazz de primeira quando uma mulher, para lá de Teerã, sentou na minha frente, puxando papo como se me conhecesse há anos. Eu desconversei e decidi que era hora de voltar. Ela levantou e rodou de maneira aleatória como se ouvisse, ao invés de improvisos ao piano, batidas eletrônicas hipnóticas.

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