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O poeta em autorretrato de 1845: tradição romântica do desenho | Reprodução
O poeta em autorretrato de 1845: tradição romântica do desenho| Foto: Reprodução

Poesia

Tarás Chevtchenko, o Poeta da Ucrânia

Redação e coautoria de Mariano Czaikowski. Edição independente, 162 págs., R$ 40. Vendas pelo telefone (41) 3335-1220.

"É-me Indiferente"

Já não me importa... É-me indiferente

Que eu morra na Ucrânia, ou algures,

Que alguém me lembre, ou olvide

Sozinho entre as neves do exílio,

Aí, não me importa, não me importa!

Cresci no exílio, como escravo,

Pois, exilado morrerei

E tudo levarei comigo.

Não deixo nem um rasto leve

Em nossa Ucrânia tão gloriosa,

Em nossa pátria escravizada.

Não lembrará o pai ao filho,

Não lhe dirá: "Aí, reze, filho,

Pois, pelo amor que teve à Ucrânia,

Outrora, foi sacrificado..."

E não me importa que esse filho

Reze, ou não reze por min´alma.

O que me dói é que homens maus

A Ucrânia embalam, com mentiras

E um dia acorde, o incêndio e o roubo.

Aí, isso, sim é que me importa!

Tradução: Wira Selanski e Helena Kolody.

Foi mais do que oportuna a publicação de Tarás Chevtchenko, o Poeta da Ucrânia neste ano de seu bicentenário de nascimento – que coincidiu com o tenso momento por que passa seu país, dividido entre as influências europeia e russa.

O poeta, morto em 1861, é considerado o autor e pintor inaugural de um nacionalismo realista ucraniano, escrevendo em sua língua materna numa época de opressão pelos czares russos. Conforme o relato apresentado pelo livro, seus escritos ajudaram a resgatar o sentimento nacional entre camponeses reduzidos a servos de glebas doadas a amigos do império. Em Curitiba, o símbolo de sua relevância entre imigrantes é a grande estátua dedicada ao artista, situada na Praça da Ucrânia.

"Tudo o que ele sofreu e pregou hoje está sendo um manual de atuação do verdadeiro patriota ucraniano", emociona-se Mariano Chevtchenko, organizador da obra que integra a terceira geração de ucranianos no Paraná. "Temos que lutar e não aceitar a dominação. Estão querendo oprimir um país, então, precisa de tudo aquilo de novo."

"Leiam Chevtchenko, pois lá está criada para vocês a completa revelação, história e alma do povo ucraniano. E enquanto nosso povo estiver lutando pela sua libertação, até então esse filho de servos estará diante dos nossos olhos", escreveu Vassyl Stefanyk, escritor ucraniano morto em 1936.

A dedicação de Chev­tchenko à luta pela liberdade do país lhe custou caro. Preso em posse de manuscritos em que insultava a família do czar e pregava a revolução armada, foi enviado ao exílio na cidade de Orenburg, na Rússia, por dez anos. Pior do que as tarefas humilhantes a que era submetido, a proibição de escrever e pintar, sua expressão artística inicial, foi o mais duro de enfrentar.

Poemas

A relação entre a vida e a obra de Chevtchenko é o cerne da obra recentemente publicada, que reúne textos editados anteriormente, agora numa só edição, pela primeira vez bilíngue, feita por iniciativa da Representação Central Ucraniano-Brasileira. Dividido em três partes, o livro traz uma biografia (escrita por Mariano Czaikowski), um ensaio sobre a relação do poeta ucraniano com a obra do brasileiro Castro Alves e poemas traduzidos por Wira Selanski em parceria com a poeta Helena Kolody (1912-2004), que versificou a obra. Helena contava, em suas memórias de família, que um dos livros de cabeceira da mãe era de poesias de Chevtchenko.

Os onze poemas apresentados no livro foram escritos entre 1837 e 1861 e reúnem trabalhos nacionalistas românticos, criados em São Petersburgo; realistas; marcados pelo exílio de dez anos e, no final da vida do poeta, escritos de uma fase lírica.

Ainda que em algumas poesias ele exalte as belezas naturais de seu país e a infância simples, a maior parte é dedicada à revolta contra a opressão. O poeta faz isso usando, com frequência, narrativas – pequenas histórias que ele conta nos versos retrabalhados em português por Helena Kolody.

Há espaço ainda para temas realistas classificados como comédia: "E eu, boa gente?/ Dia e noite só festejo/ Triste ou contente./ As censuras não me atingem/ Ergo o copo cheio,/ Pois eu bebo o próprio sangue/ Não sangue alheio".

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