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Quem costuma ler, faz isso em vários lugares e situações. Nada novo até aqui. O que a Record fez foi criar um sistema e transformá-lo em uma coleção de antologias de contos inéditos ou não, organizados pelo escritor e colunista da Gazeta do Povo Miguel Sanches Neto. "Contos para Ler Ouvindo Música" (Record, 168 págs., R$ 26,90) é o primeiro deles e reúne um time de escritores encabeçado por Luis Fernando Verissimo, autor de "Noites do Bogart", embalado ao som de "As Time Goes By", famosa na voz de Dooley Wilson, imortalizada pela trilha sonora de "Casablanca", com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman.

Alguns escritores sugerem a música que deve acompanhar a leitura – como faz Daniel Piza ao sugerir "Gymnopédies", de Erik Satie, no conto "Educação pelo Outono". Outros preferem escrever sobre música. Arthur Dapieve em "Inverno, 1968", especula como teriam sido as desavenças que levaram Syd Barrett a sair do Pink Floyd, ao descrever a rotina de gravações do grupo na data que dá nome à narrativa. As referências pop terminam com "Flores em Vida", Luís Pimentel, dedicado à memória de Nelson Cavaquinho.

O segundo volume da coleção, "Contos para Ler na Cama", pode sugerir, de início, histórias contra insônia ou outras, despretensiosas o suficiente para desligar o leitor de tudo depois de um dia de trabalho. Nada disso. O "cama" do título tem conotação sensual e as peças reunidas por Sanches Neto tratam de homens e mulheres que experimentam "as urgências do corpo" – uma forma elegante de dizer, enfim, "sexo", antes, depois e durante.

"Fantasias de uma Noite de Verão", de Domingos Pellegrini, autor de Meninos no Poder e colunista da Gazeta do Povo, abre o livro. Descreve algumas venturas e desventuras eróticas de um homem na fissura por sexo até um desfecho inesperado e muito bem sacado. Há ainda um típico (no bom sentido) Rubem Fonseca – o que se percebe já no título: "Tratado do Uso das Mulheres", na verdade, nome do trabalho que um dos personagens do diálogo retratado pelo autor pretende fazer.

"Hum", de Marcelino Freire, é o pós-moderno da seleção e dedica 11 páginas a um diálogo em que o homem responde a mulher apenas com gemidos. A situação parece ser de adultério, mas o final mostra que o caminho não é esse. Márcia Denser poderia figurar tanto na antologia de música quanto na da cama porque o seu conto,"O Animal dos Motéis", começa citando Roberto Carlos – "Mas sempre acabo nos seus braços / do jeito que você quer".

O terceiro volume da coleção que pretende abordar ainda temas como gastronomia e homossexualismo é "Contos para Ler em Viagem". De novo, Pellegrini marca presença, dessa vez ao lado de Cristovão Tezza ("Os Telhados de Coimbra") e Sérgio Faraco ("Sesmarias do urutau mugidor"). Perfeita para as férias iminentes, a coleção tem apenas um defeito: não traz biografias (nem bibliografias) dos autores selecionados.

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