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Em O Diabo Veste Prada, comédia norte-americana que estréia hoje no Brasil, uma espetacular Meryl Streep, no papel da implacável editora de moda Miranda Priestly, jamais altera seu tom de voz. Talvez porque, pelo menos em sua cabeça, não seja necessário gritar se todos ao seu redor sabem que sua palavra é a primeira e a última, sem qualquer possibilidade de questionamento. Como uma monarca déspota, porém esclarecida, ela comanda absoluta e com mão-de-ferro a revista Runaway (algo como a Vogue na vida real), espécie de bíblia do mundo fashion.

O reinado de Miranda, apesar de não ser exatamente abalado, sofre um leve porém significativo sobressalto quando entra em cena a aspirante a jornalista Andrea Sachs (a carismática Anne Hathaway, de Diários de Princesa e O Segredo de Brokeback Mountain). A moça, incapaz de soletrar Gabbana e cuja ignorância em termos de moda se materializa na forma equivocada como se veste, de alguma forma atrai o interesse de Miranda, que a contrata como assistente. Tem a esperança de poder moldar a jovem para que se torne uma espécie de serviçal um pouco mais pensante do que as criaturas acéfalas e bulímicas que a antecederam.

Andrea, por sua vez, vê no emprego uma oportunidade de ouro para fazer contatos e alavancar uma futura carreira, quando poderá escrever sobre "assuntos sérios", entre os quais moda definitivamente não se inclui, pelo menos não em sua percepção um tanto ingênua e preconceituosa.

Ao confrontar os mundos aparentemente irreconciliáveis de Miranda e Andy, O Diabo Veste Prada tem uma premissa instigante, não há como negar. Na medida em que a jovem aos poucos se transforma para se adequar às exigências do universo da editora, ela também consegue convencer a chefona de que pode, sim, ser, em uma versão mais magra e bem vestida, mas ainda assim inteligente, um incremento interessante à equipe da editora. De quebra, Andrea aprende que o mundo da moda é mais complexo e menos vazio do que supunha.

Pena que O Diabo Veste Prada, um filme engraçado, charmoso e muito bem realizado, tenha tão pouca ousadia ao enfocar a trajetória de Andrea como uma espécie de jornada em nome da virtude. A personagem, repetindo um paradigma onipresente no cinema norte-americano, vivencia sua passagem pela redação de Runaway como uma espécie de Gata Borralheira que, depois de transformada em princesa, encontra o caminho da luz, da auto-realização e se desvencilha de um microcosmos que, apesar de ter-lhe ensinado lições importantes, é superficial demais para conter suas pretensões intelectuais e existenciais.

Mais realista e provocativo teria sido ver Andy aceitar as regras do jogo, tentando impor seus pontos de vistas, mas admitindo as limitações de seu idealismo. Do jeito moralista e superficial com a história se resolve, o filme de David Frenkel (diretor de vários episódios da série Sex and the City) não vai muito além do mero entretenimento. Sobra Meryl Streep, infernal e perfeita da primeira à última cena, os figurinos e a atuação da inglesa Emily Blunt (de Meu Amor de Verão), hilariante como a patética primeira assistente de Miranda. GGG

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