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Qual é a de Kathleen McGowan?

Difícil dizer assim, de chofre.

O Segredo do Anel (Tradução de Pinheiro de Lemos. Rocco, 432 págs., R$ 39,50) é seu primeiro livro, recém-lançado no Brasil, e fala sobre o esforço da jornalista Maureen Paschal para reavaliar o papel de várias mulheres na História, de Maria Antonieta até Lucrécia Bórgia. À medida que a pesquisa avança (ou retrocede no tempo, melhor dizendo), a protagonista tem uma epifania.

Ela vê Maria Madalena e a santa dá a entender que Maureen precisa assumir a missão de contradizer a versão oficial dos fatos. Parte da ação se desenrola em torno de um anel que a jornalista encontra em um antiquário da Cidade Santa (em princípio, o mesmo que Kathleen McGowan usa na foto que ilustra esta página). Assim como O Código da Vinci, de Dan Brown – que deixou de ser um livro para se tornar um fato sociológico de proporções globais –, O Segredo do Anel também sugere a existência de uma linhagem sagrada, resultado da união entre Jesus Cristo e Maria Madalena. Seria polêmico, mas não original.

Enquanto Brown discutiu com meio mundo clamando que seu romance era apenas ficção – só faltou pedir que não o levassem tão a sério –, a postura de Kathleen é outra. Ela diz que se obrigou a romancear os eventos para preservar fontes. Porém, tudo em seu livro é "a verdade".

E não pára por aí.

A escritora diz ser, ela mesma, integrante dessa linhagem sagrada. Maureen tem a função de um alter ego para a autora relatar experiências e crenças pessoais. A mais controversa delas é, de longe, a visão que teve de Maria Madalena na primavera de 1997. "Começou como um sonho", diz a autora em entrevista por e-mail ao Caderno G, "eu senti que ela estava suplicando para eu ajudá-la de alguma forma".

Kathleen conta que o sonho a abalou o suficiente para acordar suando frio e isso não foi tudo. "Em pé na porta do nosso quarto, estava a mesma mulher do meu sonho – Maria Madalena. Durou alguns segundos e eu tentei acordar o meu marido, mas ela já havia desaparecido quando ele despertou", lembra.

"Ela estava me mostrando que eu tinha de ir a Israel", afirma a escritora, que se considera uma mulher crente (em oposição a racional). "Eu encontrei minha fé enquanto escrevia esse livro. Maria Madalena me trouxe de volta a Jesus e a Deus."

Traduzida para mais de 20 idiomas, Kathleen admite o quão estranho pode ser alguém sair na mídia hoje em dia dizendo que "teve uma visão". "Isso é visto como algo ruim, esquisito ou até louco. Eu recebi todo tipo de críticas por admitir que tive diversas visões ao longo desse processo e rezo para que continue a tê-las. Eu gostaria que mais pessoas pudessem vivenciá-las como coisas bonitas e capazes de mudar vidas."

Kathleen não conseguiu ser levada a sério pela academia nem pela Igreja. A tática parece ser não falar nada que possa servir de combustível para o sucesso da obra. O resultado é que ela está atraindo muito menos atenção do que gostariam a editora e a autora. Há pelo menos três semanas em listas de mais vendidos na imprensa brasileira, O Segredo do Anel ficou menos de um mês na lista de best sellers do jornal The New York Times, um desempenho muito aquém do esperado. O lançamento no mercado americano aconteceu em agosto passado.

Planejado como o primeiro volume de uma trilogia, Kathleen fez uma edição do autor e só depois conseguiu fechar contrato milionário com a Simon & Schuster. Ao comentar o fato, muda claramente o tom da entrevista. "Este livro é imenso e só tende a crescer porque a história que conta é importante", diz a escritora para, em seguida, listar todos os seus feitos: traduções em 28 idiomas, uma das poucas estreantes a figurar na famosa lista do jornal nova-iorquino, centenas de mensagens recebidas de pessoas emocionadas pelo que chama de "verdadeira história de Maria Madalena". Embora "centenas" não impressionem um mercado que almeja os milhões. "É prematuro demais fazer qualquer comentário sobre o sucesso do livro que não o de dizer que tem sido fenomenal até aqui."

Qual é a de Kathleen McGowan?

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