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Zezé di Camargo e Luciano em cena do show "Duas Horas de Sucesso" | Marcus Quint/ Divulgação
Zezé di Camargo e Luciano em cena do show "Duas Horas de Sucesso"| Foto: Marcus Quint/ Divulgação

Welson David de Camargo. Ouvindo o nome assim, de relance, talvez você nem desconfie que é assim que se chama um dos artistas mais famosos do País. Este é o nome verdadeiro de Luciano, da dupla Zezé de Camargo & Luciano que se apresentará no Teatro Guaíra no sábado (11) e no domingo (12), com o show "Duas Horas de Sucesso"(Clique aqui e prepare-se para o show).

Este é o segundo ano seguido que a dupla, que tem 17 anos de carreira, desembarca em Curitiba para se apresentar no Teatro Guaíra. A cidade, segundo o próprio Luciano, virou um ponto de referência para o trabalho dos dois.

Em entrevista exclusiva concedida à Gazeta do Povo Online, Luciano fala do repertório do show, relação com os fãs, convivência com o irmão e sobre cinema, uma das suas grandes paixões. Direto e claro, Luciano criticou o novo segmento "Sertanejo Universitário".

"Se eles são universitários, a gente é mestre. Aí amanhã, eles fazem um trabalho igual, cantando sucesso dos outros. Eu acho que pra você ser chamado de universitário, tem que trabalhar bastante. Eles fazem um trabalho segmentado, pra um público só. Eu não. Faço um trabalho para um público de A a Z, de todas as idades. Eles não têm identidade nenhuma."

Confira a entrevista:

Qual é o repertório que você irá apresentar no show de sábado (12) e domingo (13) no Teatro Guaíra?

A apresentação é uma coletânea com os nossos grandes sucessos. Se surgir a oportunidade de cantar alguma canção nova é no improviso, não tem nada planejado. Tem um momento do show em que a gente brinca com a platéia, pedindo para que eles peçam para que a gente toque determinada música. Às vezes, alguém pede alguma que a gente não lembra. Nessas horas, a gente tenta dar uma disfarçada, botando a pessoa pra cantar.

Este é o segundo ano seguido que vocês vêm a Curitiba. Qual a importância destes shows no Teatro Guaíra?

A gente sonhava fazer isso há muito tempo. Depois que fizemos a apresentação lá, no ano passado, passamos a fazer o mesmo tipo de espetáculo em outros teatros do país. Era um sonho antigo, que agora está virando um habitué. Hoje o Brasil não é só Rio de Janeiro e São Paulo. É importante você se apresentar em outros locais, como Recife, Curitiba e Porto Alegre. Não adianta montar um show só para uma casa de espetáculos no Rio de Janeiro e São Paulo, e fazer algo diferente numa outra cidade. Temos que apresentar o melhor da nossa dupla o tempo todo. Curitiba não é só uma cidade modelo por sua arquitetura. O público daqui também é referência. Tocar música sertaneja num espaço como o Guaíra é uma grande conquista. Já pedi inclusive para o meu empresário reservar o Teatro Guaíra por três dias no ano que vem. Seria interessante nos apresentarmos numa sexta e num sábado, e deixarmos o domingo reservado para o caso de lotarem as outras sessões.

Esta prática de show em teatros tem sido nova para vocês. Quais são as diferenças?

O que a gente sente de diferente é que tem muita gente que vai até em um show num teatro como o Guaíra, inclusive pagando um pouco mais caro, mas que não iria num lugar aberto. Essa é a única diferença. Quando você começa a cantar percebe que a empolgação do público é a mesma. Você também tem a oportunidade de ter novos espectadores, que vão à apresentação e recomendam depois para amigos.

Qual é a canção que não pode sair do repertório das apresentações de vocês de jeito nenhum?

É engraçado. A gente tem muitos sucessos, alguns que até venderam mais, que fizeram mais sucesso nas rádios, mas uma que não pode sair é a "É o Amor". Quando a gente pede para que as pessoas peçam uma música específica para cantarmos durante o show, a maioria a pede, por mais que já esteja no repertório.

Como é a relação com os Fãs-Clubes de vocês? Eles influenciam no repertório?

Hoje em dia os fãs-clubes não têm apenas os méritos de pedir músicas nas rádios, mas também de fazer comentários. Eu gosto muito de entrar em fóruns de discussão depois dos shows para ver o que eles estão comentando. Isto é muito engraçado. Se você fizer uma piada, cantar uma música nova, eles vão falar. Isto te serve de termômetro. O fã hoje em dia é um parceiro de trabalho. Não quero que isso soe negativo, pelo contrário, mas eles são como pequenas formiguinhas que trabalham em prol da gente. Nós chegamos até aqui graças a eles. O próprio show que a gente vai apresentar no Guaíra surgiu de uma pesquisa que a gente fez durante os shows e na internet.

Qual é o segredo de sucesso de vocês?

(Risos) Se alguém tivesse esta fórmula seria bilionário. Acho que a receita para se manter o sucesso é manter esta relação direta com o seu público. Nossos fãs são fieis conosco. Podemos até tocar com outros artistas, lidar com outros ritmos, mas eles nunca nos abandonam. Existem shows em que observamos crianças de sete anos cantando todas as canções do repertório. São os pais que ensinam isso. Não existe segredo pro sucesso, é ele que vem até você. Cabe a nós trabalhar para mantê-lo. Temos que fazer algo sempre melhor do que fizemos anteriormente. É por isso que falo que a fidelidade do público é muito grande, e eu só posso agradecer a isso. Deus é muito bom com a gente.

Como é a relação com o seu irmão durante estes mais de 17 anos de carreira?

(Risos) Eu até estava brincando com ele esses dias. Disse: "Zezé, a gente está numa lua de mel". E é uma lua de mel de 17 anos. Somos um casal que não divide a mesma cama. Nos últimos tempos, ele passou por um momento muito difícil, em que ele chegou a pensar que ia perder a voz. Isto foi muito dolorido para a gente. Mas ele se empenhou e venceu. Se você me pedir para lembrar uma passagem triste entre nós, eu vou dizer que não tem. É lógico que tivemos discussões, principalmente do ponto de vista do trabalho. Mas o mais importante é que depois disso as coisas saem do jeito que nós queremos. É sinal de que a gente se ouve e respeita as opiniões um do outro. O Zezé teve a capacidade de superar todas as adversidades que surgiram na vida dele, então ele é um cara que a gente tem que tirar o chapéu. Além de tudo isso ele é uma pessoa super engraçada, cheia de energia positiva. Até as piadas velhas que ele conta fazem a gente dar risada. Acho que não conseguiria viver sem ter pessoas como ele, com a energia dele, ao meu lado. O Zezé tem defeitos, é lógico, mas as qualidades dele superam isso. Ele só não é santo (risos). Somos como dois relógios de modelos diferentes que trabalham na mesma sintonia.

Que tipo de música você costuma ouvir nas horas vagas? Como estas canções influenciam o seu trabalho?

Eu escuto bem pouco sertanejo. Gosto muito de músicas regionais, que até te servem de influência. Você não pode parar de ouvir coisas novas. Minhas referências não são de 17 anos atrás. As coisas boas estão aí pra te influenciar. Ouço muita coisa da minha época, a "geração Coca-Cola": Capital Inicial, Titãs, Legião Urbana, Paulo Ricardo. Nossa mistura local é muito grande, e isso me agrada muito. Um bom exemplo é a Nação Zumbi, uma banda que eu vi surgir e escuto até hoje. Ao mesmo tempo em que o som deles é moderno, ele é bem "raiz". Isto só acontece no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, você não vê isso. Uma cantora como a Shakira tem que cantar em inglês para conseguir repercutir lá. Gosto de músicos internacionais como Alanis Morissette, James Blunt, Robbie Williams... São vários. Mas essa coisa da miscigenação de culturas seja na TV, na música ou na literatura, você só vê aqui.

O que você acha deste novo segmento musical que surgiu nos últimos tempos chamado de "Sertanejo Universitário"?

Eu não gosto desta coisa de rotular estilos. Eu e o Zezé estávamos comentando sobre isso um dia desses. Que tipo de universitário é esse? Se eles são universitários, a gente é mestre. Aí amanhã, eles fazem um trabalho igual, cantando sucesso dos outros. Se ele fizer isso, vai ser repetente, e universidade não aceita isso. Ou você se forma, ou não. Quando nossa dupla sertaneja surgiu, rotularam a gente de "new sertanejo". Pra quê isso? Eu sempre falava que nós éramos uma dupla sertaneja que tocava músicas românticas, de origem caipira. Eu acho que pra você ser chamado de universitário, tem que trabalhar bastante. Eles fazem um trabalho segmentado, pra um público só. Eu não. Faço um trabalho para um público de A a Z, de todas as idades. Quando aceitam este tipo de rótulo, é porque não tem identidade nenhuma. Não gosto do rótulo e nem daqueles que se auto-incluem no gênero. Para mim isso é uma grande burrice, que só faz com que um trabalho que levamos muito tempo para construir ande para trás. Parece coisa pequena, mas não é. A gente sempre lutou para se garantir como artista. Meu filho começou a tocar umas músicas antigas para mim um dia desses. Eu falei que se ele viesse pra me mostrar aquilo, podia dar meia volta. Para mim, quando você faz isso tentando renovar a música, você está acabando com ela. Tem que tirar o rótulo, e fazer um trabalho sério como duplas como Vitor e Leo, Zé Henrique e Gabriel e Jorge e Mateus conseguiram.

Você gosta de se ouvir cantando? Já pensou em gravar uma música sozinho?

Desde o primeiro disco eu canto, uma música ou duas. Nos shows também. Mas sendo sincero: não gosto de ficar cantando sozinho no palco. O Zezé chega a brigar comigo. É até engraçado. Quem faz segunda voz não pode ver alguém cantando uma melodia que já quer entrar na música. Eu até brinco dizendo que eu sou um "segundeiro" muito consciente. Prefiro cantar pouco e aparecer bem, do que cantar muito e deixar a música feia. Quando a gente está mixando um disco, eu e o Zezé discutimos onde é que minha voz tem que ficar. Eu sempre peço pra tirar de alguns trechos, mas geralmente sou voto vencido. Agora, no show, eu só canto na hora que eu quero (Risos). Um dia o Zezé me chamou pra gravar uma canção nova em que eu cantava uma parte e ele outra, e ela acabou virando nossa música de trabalho. Quando a gente ia cantar ela na TV, eu ficava torcendo para acabar rápido. Não é que eu não goste da minha voz, eu só não gosto mesmo é de cantar sozinho. Graças a Deus, nesse show que a gente vai apresentar no Guaira, a gente não se separa (Risos). Nasci pra ser segunda voz. O dia que gravasse um CD sozinho, acho que só eu iria comprar ele para justificar o meu trabalho (Risos).

Você é um grande apreciador do cinema nacional. Sendo assim, o que achou da indicação do filme "Ônibus 174" como o indicado do Brasil para concorrer a uma vaga no Oscar?

Achei bárbaro. Já tive a oportunidade de assistir aos dois: ao documentário (de José Padilha), e ao filme (dirigido por Bruno Barreto) que foi escolhido. Acho que o Brasil tem que parar com esta mania de indicar só o que a academia vai gostar. Eu digo que, no ano que nosso filme foi feito ("2 Filhos de Francisco", drama dirigido por Breno Silveira lançado em 2005, que contava a história do surgimento da dupla sertaneja através da figura do pai da dupla, o senhor Francisco) não existia nenhum outro filme nacional capaz de concorrer com ele. Vendo também os filmes estrangeiros que participaram do Oscar, eu acho que nenhum seria capaz de competir com o nosso. A gente só não foi indicado por incapacidade de fazer lobby. A escolha de "Ônibus 174" mostra para o Brasil que a gente não pode viver só da indicação de filmes como "O Ano em Que meus Pais Saíram de Férias", "2 Filhos de Francisco" e "Central do Brasil", embora eu goste deles. O Filme não pode ser feito para agradar os membros da Academia. Por isso que eu torço para que ele seja indicado como um dos cinco concorrentes para o Oscar. A gente tem que saber vender o filme lá fora.

Qual é o seu filme favorito?

Eu adoro Mazzaropi. Mas se for para citar nomes específicos eu destacaria "A Ostra e o Vento" (de 1998, dirigido por Walter Lima Jr.) e "O Caminho da Nuvens" (de 2003, direção de Vicente Amorim). Eu diria que estes são os dois melhores filmes que vi na minha vida. Também gosto muito de "O Auto da Compadecida" (de 2000, dirigido por Guel Arraes).

Onde você espera estar daqui a 10 anos?

Cantando. Este é o maior projeto da minha vida. Neste mesmo dia, daqui a 10 anos, eu quero estar em cima de um palco. É um êxtase indescritível. Enquanto Deus me der forças, e enquanto o povo me agüentar, eu irei continuar.

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