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Fernanda Young: humor e texto refinado em obra muito pessoal | Divulgação
Fernanda Young: humor e texto refinado em obra muito pessoal| Foto: Divulgação

Opinião

Marcio Renato dos Santos, repórter do Caderno G

O melhor da autora

O Pau é o nono e o melhor livro escrito até este momento por Fernanda Young. A obra revela a maturidade da escritora. Ela elaborou um enredo fruto de muita reflexão que se traduziu em um livro enxuto, de apenas 182 páginas.

A protagonista representa a mulher que lutou para ser reconhecida profissionalmente. Adriana, a personagem central de O Pau, é apontada como uma vencedora. Tem 38 anos, repertório cultural e muito dinheiro na conta bancária.

Também tem, e isso a define, um histórico de relacionamentos malsucedidos. Adriana é uma representação literária, uma constante no Brasil contemporâneo, de mulheres interessantes que repetem o mesmo padrão: relacionam-se apenas com homens incompatíveis.

A estrutura do romance é perfeitamente adequada à trama. Nada é linear em O Pau, como nada poderia acontecer em "linha reta" no imaginário de Adriana depois que ela descobre que está sendo traída por seu atual parceiro.

Ela praticamente comprou a companhia: um homem mais novo, que prefere fazer musculação a ler, e que estava interessado desde o começo da relação apenas no benefício de ser bancado por uma "coroa".

O texto de Fernanda Young é mais do que ágil, é velocíssimo, e traz muitas referências à cultura pop. A atriz Suzana Vieira, que repete o padrão de Adriana, é muito citada durante o livro, e o artifício funciona (bem até demais).

Suzana, a exemplo de Adriana, não pode se sentir apenas vítima de eventuais traições de jovens interesseiros. Se um homem bem mais novo se interessa por uma mulher com mais idade do que ele (e o mesmo raciocínio vale para um homem que se relaciona com uma mulher bem mais jovem), obviamente que há um jogo com as suas regras. Adriana sofre por não entender ou não querer ver que às vezes a vítima é, na realidade, o algoz.

Mas Fernanda Young não desenvolve uma tese, ela é artista e faz obra de arte: as eventuais interpretações dependem do olhar e do repertório de cada leitor.

O que mais chama a atenção é a capacidade da autora em problematizar sobre um tema complexo (a Faixa de Gaza que separa homens e mulheres) com leveza, elegância, senso de humor e, acima de tudo, por meio de um texto impecável.

Fernanda Young, 39 anos, está bastante satisfeita neste fim de 2009. Simultaneamente, ela vê publicado o seu nono livro, O Pau, e o ensaio que realizou para a revista Playboy está disponível em todas as bancas de revista do Brasil.

Ela conta que os dois trabalhos dialogam. Ter posado nua a motivou a escrever o romance. Há algum tempo, ela esboçava um outro livro, com o título provisório Identificação com o Inimigo. Mas a trama não fluía. A partir do momento em que se expos sem roupas para a lente de Bob Wolfenson, libertou-se. Aban­­donou aquele projeto ficcional e, em dois meses, escreveu O Pau.

O romance tem como protagonista Adriana, uma designer de 38 anos, refinada culturalmente, mas que não consegue encontrar um parceiro satisfatório. Na trama, a personagem tem um surto, perde totalmente o controle, a partir do momento em que descobre que está sendo traída por seu atual companheiro, um homem 14 anos mais novo do que ela.

O Pau é uma obra que trata de questões sérias, de vingança e desespero por exemplo, mas tem no humor um ingrediente que torna a leitura leve e fluente.

"Optei pelo humor para tornar agradável a problematização sobre um tema complexo e difícil de tratar", diz Fernanda Young.

Em sintonia com o tempo

Fernanda Young, assumidamente verborrágica, reconhece que conseguiu sintetizar ao máximo uma complexa problematização literária nesta obra recente. O Pau tem "apenas" 182 páginas, bem menos que Vergonha dos Pés, de 272 páginas, e Aritmética, de 398 páginas.

Ela analisa que essa conquista, escrever tudo o que entende como necessário sob o signo da síntese, dialoga com o espírito do tempo presente. A escritora cita dois exemplos, dois autores que ela costuma ler e reler, como Philip Roth e Amóz Oz, que também reduziram, e muito, a extensão de suas obras recentes.

"Hoje, parece já não haver mais espaço nem público para livros extensos. Os leitores estão praticamente solicitando textos mais breves. Afinal, as pessoas utilizam o tempo de maneira mais dinâmica", afirma.

A escritora conta que ela mesma enfrenta dificuldade para administrar o tempo. Ela apresenta o programa Irritando Fernanda Young, na GNT, escreve roteiros para programas de televisão e cinema e precisa encontrar momentos para conviver com o marido, o escritor e roteirista Alexandre Machado, e as suas três filhas: Cecília Madonna, Estela May e Catarina Lakshimi. "Inclusive, eu escrevia muito mais antes de ter sido mãe. Agora, tenho de valorizar cada segundo", diz.

Toda nua

Fernanda acredita que, apesar da notoriedade construída a partir de suas aparições na televisão, ela é mais genuína naquilo em que escreve.

A escritora, agora também coelhinha da Playboy, não sabe ainda qual será o efeito de sua exposição nua na revista de circulação nacional. Ela gostou.

Não teme incompreensões. Fernanda diz que sempre foi muito corajosa, "em tudo", mas teve de ultrapassar alguns limites para posar nua. O cachê, que ela não revela quanto foi, a impulsionou. Mas algo, talvez indifinível, lá no fundo dela se transformou depois dessa experiência.

"Vivemos um tempo muito careta e hipócrita", finaliza.

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Serviço

O Pau. Fernanda Young. Rocco. 182 págs. R$ 25.

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"Acreditar que você era meu opressor, martirizando-me, foi uma decisão minha. E eu não quero mais ser mártir. Quando me tornei tão canalha quanto os homens que me traíram, estava apenas doente de uma patologia grave: a identificação com o inimigo. Nomenclatura que não é minha, é de Anna Freud. Nunca, até hoje, tinha percebido tão fortemente que sofria da cabeça. Sou uma doente, porque fiquei igual àquele que eu mais temia. Fiquei igual à você. E não digo isso para me ver livre da culpa, estou adorando me sentir culpada; digo porque não acreditei no nosso amor, enquanto atuava como se acreditasse."

Trecho de O Pau, de Fernanda Young.

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