Rubem Cabrera caminha na Rua XV. Um, dois, três passos. Para em frente da vitrine de uma loja e aponta para o álbum Revolver, dos Beatles. "É o meu disco preferido", diz, e em seguida afirma que Paul MacCartney é o seu "beatle" predileto. "Porque é o mais musical, o mais músico, entende?". Cabrera circula e não atrai olhares na Boca Maldita. Hoje, ele tem 30 anos. Mas em um passado, nem tão distante assim, percorreu o Brasil fazendo shows, além de ter participado de programas de televisão.
Uma lembrança, que não se apaga na memória de Cabrera, foi um final de semana em Belo Horizonte, durante a década de 1990. Ele foi convidado para seguir dentro de um ônibus, onde estavam os músicos da Legião Urbana, até um estádio na capital mineira. Lá, ficou na frente do palco. No instante em que o guitarrista Dado Villa-Lobos tocou os primeiros acordes de "Pais e Filhos", Renato Russo convidou o então pequeno Cabrera para subir ao palco e cantar, junto com Russo, um dos maiores sucessos do repertório da extinta e hoje lendária banda brasiliense.
De 1988 a 1993, Rubem Cabrera ficou conhecido, em todo o Brasil, como Rubinho. Naquele período, ele foi um dos integrantes do conjunto infantil Trem da Alegria, ao lado de Juninho e Amanda. Participou da gravação de cinco discos, na época, ainda de vinil. Alguns desses álbuns ultrapassaram a marca de 500 mil cópias vendidas.
Rubinho cantava músicas de Michael Sullivan e Paulo Massadas, dois dos principais compositores de sucessos radiofônicos do Brasil. A banda "de apoio", do Trem da Alegria, era nada menos que o Roupa Nova formada por instrumentistas da mais alta qualidade. Rubinho convivia com artistas como Roberto Frejat (Barão Vermelho), Herbert Vianna (Paralamas do Sucesso), além dos integrantes dos Titãs até o Cazuza ele conheceu.
Em 1994, quando o Trem da Alegria acabou, Rubinho ainda morava em São Paulo. Mas ele voltaria para a cidade em que nasceu, Curitiba, devido a uma paixão. Ele conheceu, namorou e casou com uma jornalista curitibana, e a partir dessa relação nasceu Gabriel, hoje com 4 anos.
Quando tinha a idade que seu filho tem hoje, Rubinho começou a se interessar por música. No Café do Paço da Liberdade, no Centro de Curitiba, ele bebe café espresso, olha para um piano e conta que, ainda menino, precisava tocar justamente um piano para se acalmar. Os pais perceberam a relação que o filho tinha com a música, e o cercaram de instrumentos. Ao invés de bola de futebol, um violão. Patinete? Que nada, ele brincava com bateria, contrabaixo e gaita. Até que um dia, ele já tinha 8 anos, surgiu um anúncio em um jornal paulistano que procurava um cantor para uma banda infantil.
Mais de 500 crianças disputavam aquela cobiçada vaga para entrar no Trem da Alegria. Rubinho foi chamado. Um maestro perguntou que música ele iria cantar. Rubinho respondeu "umas duas dos Beatles", mas gostaria de, ele mesmo, fazer o acompanhamento no piano. Apresentou "Let It Be" e "The Long and Winding Road". O maestro interrompeu o processo de seleção. A vaga era dele.
Atualmente, Rubinho tem uma empresa que produz, sob encomenda, música para empresas, principalmente para o mercado paulistano. Em Curitiba, é requisitado para acompanhar diversos artistas. Ano passado, foi o convidado especial no show que a banda Relespública realizou no Teatro Guaíra. É o tecladista da banda Sex Machine, com mais de 200 músicas no repertório. Também divide o palco do porão do Wonka Bar com o bluesman Décio Caetano. Mas não tem muita vontade de ser "músico da noite". Prefere estar em casa, diariamente, antes das 23h47. Já provou o "sabor" de uma vida de popstar. Agora, quer, acima de tudo, uma rotina bem equilibrada.
Rubinho gosta de Curitiba porque aqui ainda é possível sair de um bairro residencial, no seu caso, o Boa Vista, e chegar ao Centro em menos de 20 minutos, algo impensável para quem vive em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Gosta de cinema. Inclusive, produziu trilha sonora para três filmes do Projeto Audiovisual da Gazetinha. Mas passa a maior parte do tempo dentro de casa, onde montou um estúdio com capacidade para fazer o que quiser. Articula um programa de rock em uma rádio na internet. Tem o desejo de fazer trilha sonora para teatro. Basta um convite. Ele, que gesticula durante a conversa, como se estivesse regendo uma orquestra, tem plena capacidade de transformar ideias em música. É só estar diante de um instrumento.
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