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O físico João (Wagner Moura) cria uma máquina do tempo para reaver o grande amor de sua vida, Helena (Alinne Moraes) | Divulgação
O físico João (Wagner Moura) cria uma máquina do tempo para reaver o grande amor de sua vida, Helena (Alinne Moraes)| Foto: Divulgação

Diretor prefere a fantasia ao realismo

Quando era garoto, o diretor Claudio Torres, filho dos atores Fernanda Montenegro e Fernando Torres, adorava os livros do escritor francês Júlio Verne, como 20 Mil Léguas Submarinas. Também passava as tardes assistindo, eletrizado, a seriados de ficção dos anos 60 e 70, como Túnel do Tempo e Perdidos no Espaço. Essas referências explicam, pelo menos em parte, de onde veio a ideia para O Homem do Fu­­­turo.

O filme, apesar de contar com efeitos especiais de primeira e de ter um visual futurista convincente, também recorre sem pudor ao estilo retrô – reparem no design da máquina que transporta o físico João (Wagner Moura) ao passado e em seu reluzente uniforme prateado.

Torres admite que não se imagina dirigindo filmes realistas, como Cidade de Deus ou Tropa de Elite. "Não tenho esse perfil, não", diz, entre risos. Ele prefere comédias. Fantásticas e surreais, de preferência.

Redentor, seu primeiro longa, é uma comédia alegórica e sombria sobre a luta de classes e a especulação imobiliária no Rio de Janeiro. Mulher Invisível recorre ao realismo mágico para contar a história de um homem que se apaixona por uma garota que não existe.

Esses dois filmes compartilham com O Homem do Futuro um traço importante: o perfil anti-heróico dos protagonistas. "São sujeitos que, no fundo, têm a ver comigo", admite o diretor. No caso de João, o desafio a ser vencido é a sua incapacidade de enfrentar a timidez e a baixa autoestima, que acabam determinando seu destino.

Torres conta que o uso de duas canções tiveram papel fundamental na construção do protagonista – e da própria trama. A primeira é "Tempo Perdido", da Legião Urbana, cantada por Moura e Alinne Moraes, na sequência-chave do baile, que João tenta mudar quando volta ao passado. A outra é "Creep", da banda inglesa Radiohead, também gravada pelo ator, cuja letra, em inglês, reflete bem o estado emocional do protagonista: "Mas eu sou um bizarro/ Sou um esquisito/ Que diabos estou fazendo aqui?/ Eu não pertenço a este lugar". (PC).

A possibilidade de viajar no tempo e mudar o destino não é uma ideia original. No cinema, foi capaz de gerar pelo menos dois exemplos notáveis: A Felicidade Não Se Compra(1946), clássico absoluto de Frank Capra, e a cultuada trilogia De Volta para o Futuro, dirigida por Robert Zemeckis. Embarcando nessa mesma proposta ficcional, o cineasta carioca Claudio Torres realizou o simpático O Homem do Futuro (confira trailer, fotos e horários das sessões; atenção à data de validade da programação em cinza), que estreia neste fim de semana em todo o Brasil.

Único adepto do cinema fantástico no país, Torres, que já exercitou o gênero no sucesso de bilheteria A Mulher Invisível e no subestimado Redentor, visto por poucos, agora flerta também com a ficção científica. E se sai bem.

O Homem do Futuro conta a história de João (Wagner Moura), um físico que há anos vem trabalhando em um projeto de acelerador de partículas e acaba por inventar uma máquina capaz de viajar no tempo. No fundo, tem razões muito pessoais por trás de todo o seu empenho científico: ele sonha voltar a uma certa noite no mês de novembro de 1991, quando teve nos braços a mulher de sua vida, uma colega de curso chamada Helena (Alinne Moraes), para perdê-la horas depois, em um incidente no qual foi humilhado publicamente.

Embora a máquina funcione, e João consiga reencontrar seu passado, a jornada, antes um sonho longamente acalentado, torna-se um pesadelo. A tentativa de alterar os fatos em uma festa de faculdade, durante a qual a versão mais jovem do cientista, um sujeito tímido e inseguro, consegue impedir Helena de escapar de sua vida, resulta em um futuro ainda pior do que aquele que o personagem de fato viveu.

Com efeitos especiais convincentes e uma cuidadosa direção de arte e de figurinos, O Homem do Futuro é técnica e esteticamente um filme muito bem resolvido. Cumpre a missão de transportar o público de volta ao início dos anos 90. O roteiro, porém, apresenta pontos fracos. Embora tenha situações engraçadas e inventivas, por vezes peca pela redundância. Entre as idas e vindas no tempo, algumas cenas sobram por não acrescentarem muito à evolução da trama. Os incríveis talento e carisma de Wagner Moura, no entanto, compensam em boa parte essas falhas e ajudam a fazer do novo longa de Claudio Torres um filme brasileiro de entretenimento acima da média. GGG

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