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Os integrantes do grupo têm participações em trabalhos de alguns dos principais músicos brasileiros | André Fofano/Divulgação
Os integrantes do grupo têm participações em trabalhos de alguns dos principais músicos brasileiros| Foto: André Fofano/Divulgação
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Registro comemora 20 anos

O cenário é digno de carnaval, mas era dezembro quando as cerca de 80 mil pessoas que aparecem no show do DVD Ao Vivo No Recife, do Nação Zumbi, foram ao Marco Zero da capital pernambucana. O show, gravado em 2009, foi pensado para comemorar os 15 anos de lançamento do disco de estreia, Da Lama ao Caos (1994). Problemas diversos adiaram o lançamento, mas o DVD acaba celebrando com estilo os 20 anos de formação da banda, completados em 2011. Afinal, o grupo estava devendo um registro ao vivo em Recife. E também porque participaram do show os também pernambucanos Siba e Fuloresta, em "Trincheira da Fuloresta", e Fred Zero Quatro, em "Rios, Pontes & Overdrives", além dos convidados Arnaldo Antunes, em "Antene-se", e Os Paralamas do Sucesso em "Manguetown" – algumas das músicas da fase com Chico Science, e também entre as mais aplaudidas. "Foi emocionante estar em casa e ter essa resposta depois de tanto tempo de trampo", diz o vocalista Jorge Du Peixe.

Serviço: Ao Vivo No Recife. Nação Zumbi. Deckdisc. Preço: R$ 34,90 (DVD) e R$ 24,90 (CD). Rock.

A característica que fez do mangue o símbolo para o movimento de reanimação cultural do Recife, como queriam Chico Science e Nação Zumbi e companhia, é sua dinâmica de incessante transformação. Hoje, ao olhar com atenção alguns dos principais novos trabalhos da música brasileira, de Marisa Monte a Céu, não é raro encontrar nomes como o do baterista e produtor Pupillo e de seu companheiro de "cozinha", o baixista Dengue. Ou do cantor e compositor Jorge Du Peixe e do guitarrista Lucio Maia. Os integrantes da Nação Zumbi são alguns dos mais requisitados músicos provenientes de uma das cenas mais produtivas do país, e evidenciam a mudança que aconteceu no Recife.

"Quando criamos o Nação Zumbi, uma pesquisa colocava Recife como a quarta pior cidade do mundo. Aí você tira as conclusões", diz o vocalista Du Peixe, por telefone. "Era uma época de estagnação. O manifesto pelo mangue foi um grito, da música, cinema, artes, para fazer a cidade acordar", afirma.

O reconhecimento do protagonismo do grupo pode ser sentido no CD e DVD Nação Zumbi – Ao Vivo no Recife, que o grupo acaba de lançar (leia mais ao lado). E as transformações da sonoridade também continuam – seja neste ou nos trabalhos paralelos dos integrantes da banda. "Os projetos paralelos acabam agregando coisas diferentes. Se refletem a cada disco. Estética vai se alterando", diz Du Peixe, que anuncia um próximo álbum do Nação Zumbi "muito diferente" – provavelmente, para o próximo semestre. "Existe uma responsabilidade grande, que é cobrada a cada disco, a cada subida no palco. E não só no Recife. Mas a gente vê com a maior naturalidade possível. É o que a gente gosta de fazer", ga­­rante o vocalista.

Movimento utópico

E a estética do Nação Zumbi, e de todos os grupos ligados ao mangue beat, aliás, nunca foi limitada por um "movimento", conforme lembra Du Peixe. No caso do Nação, o maracatu e as cirandas que os integrantes cresceram ouvindo foram absorvidos pelo rock e pelo hip-hop que faziam – mas não havia unidade entre os conceitos musicais do grupo e do Mundo Livre S/A, Eddie ou Mestre Ambrósio. "O mangue é plural", explica. A necessidade de contar esta mesma história, ano após ano, é lembrada por Du Peixe. "A cada aniversário da morte de Chico [Science] os jornais e telejornais querem fazer matéria, como se fosse mudar a cada ano", diz o atual vocalista, que substituiu o líder da banda a partir de 1997. Apesar disso, garante Du Peixe, a banda lida com tranquilidade com a figura mítica de Science a que continua relacionada. "É normal. Chico acabou falecendo muito novo. Ficou uma responsabilidade muito grande", diz.

Tampouco a relação direta com o mangue beat, que é frequentemente entendido como um gênero musical, incomoda. Para Du Peixe, o "movimento utópico", como definiu Fred Zero Quatro, do Mundo Livre S/A, continua vivo.

"Estamos aqui calcados no pensamento da gênese de tudo isso – a postura, o som, a música pela música. É o que a gente gosta e quer fazer o tempo todo. É uma prova do chute inicial, da longevidade que gera se manter fiel a isso", diz Du Peixe. "Lembrando a frase que Chico cunhou, que até hoje soa muito: ‘é diversão levada a sério’."

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