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O assunto é polêmico, mas Ninguém quer fazer um julgamento definitivo. Afinal de contas, o 61.º Salão Paranaense está para acontecer e as principais mudanças não foram colocadas em prática. As inscrições de projetos foram encerradas ontem e a seleção dos participantes, pelo comitê curatorial, está apenas começando.

Mesmo assim, vários pontos de interrogação pairam sobre a cabeça de alguns artistas e críticos paranaenses, que não concordam com o novo regulamento do evento. Embora compreendam que eventos do gênero precisem de uma renovação, eles não acreditam que as alterações de data e a divisão em categorias sejam o caminho a seguir.

Para a artista e crítica de arte Nilza Procopiak, o salão vai perder o seu caráter tradicional. "Durante 60 anos, os museus e os artistas se esforçaram ao máximo para sempre realizar o salão. A continuidade era o que mais o diferenciava dos demais", argumenta.

Nilza continua favorável à realização do evento todos os anos, pois, segundo ela, por mais que o modelo seja batido, é a única forma que os artistas têm para mostrar seus trabalhos. O Salão Paranaense, nesse caso, serviria como uma vitrine para o resto do país.

A crítica de arte também não concorda com a participação de artistas convidados. Para ela, o trabalho dos outros inscritos estaria sendo desvalorizado. "Artistas que já são renomados não precisam de salão. A minha preocupação é que essa nova categoria limite a participação dos novos", conta.

O artista plástico Glauco Menta considera ser precipitado fazer qualquer comentário antes da realização do evento, mas questiona as mudanças. "A criação dessas categorias é um retrocesso. O salão era um dos meios mais democráticos para mostrar o trabalho e ganhar espaço. Com esse modelo, apenas dez artistas terão este privilégio", analisa.

Menta acha importante saber quem fará parte da comissão curatorial e quais serão os critérios de seleção, pois não acredita em isenção. Também pensa que o novo modelo custará caro. "Vai se gastar uma verdadeira fábula com esses artistas que terão passagem aérea, hotel e outros gastos cobertos pelo salão. Espero que o dinheiro público não seja usado em benefício de meia-dúzia de pessoas", alerta.

Ao contrário das previsões negativas, os artistas que participaram do processo de mudança do Salão Paranaense estão otimistas em relação aos futuros resultados. Para eles, as medidas darão fôlego novo ao evento, "desgastado e fora de época".

O diretor do Museu de Arte Contemporânea, Jair Mendes, ressalta que as mudanças fazem parte de uma tendência mundial, que se adequa aos novos parâmetros da arte contemporânea. "Hoje em dia, as propostas exigem mais estudo, pesquisa e mais tempo para a concepção. Vamos analisar as propostas e não apenas as peças", explica.

Mendes afirma que o nível do Salão Paranaense será elevado ao trazer artistas reconhecidos, bem preparados e que participam ativamente da vida artística do país. "Isso não diminuiu a participação dos demais. Já temos mais de 500 propostas inscritas", revela.

O crítico, curador e coordenador do curso de Artes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Reis, também apóia a nova configuração do salão. "As mudanças são muito positivas. Estávamos precisando repensar as suas bases, porque os tempos são outros", afirma.

Um dos pontos mais positivos é o prêmio de R$ 7,5 mil que todos os 26 selecionados receberão pelos seus projetos. Reis enxerga o prêmio como uma espécie de bolsa de estudos, que passa a tratar a arte também como pesquisa, ao dar recursos para que os trabalhos continuem a ser desenvolvidos.

Ao ser questionado a respeito dos interesses próprios que alguns membros da curadoria poderiam ter, Reis garante que a escolha será levada a sério. "Se quiserem nos chamar de interesseiros, não há problema, pois nosso maior interesse está em trazer para o estado pesquisas artísticas interessantes e uma maior discussão sobre arte entre as pessoas", rebate.

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