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Selton Mello e Wagner Moura exaltam direção

Os dois atores que melhor representam a geração da "retomada" do cinema brasileiro, Selton Mello e Wagner Moura contracenam pela primeira vez em Trash – A Esperança vem do Lixo. Ambos tinha participado do filme Nina (2004), de Heitor Dhalia, mas não se encontravam em cena. Agora, o personagem de Selton prende e tortura o de Wagner. Antes do lançamento do novo filme, ambos falaram sobre a experiência de filmar com um diretor estrangeiro e do avanço do cinema nacional para além das comédias populares.

Ainda que mostre maze­­­las como corrupção e violência policial, o filme tem uma mensagem muito otimista, bem diferente dos últimos trabalhos de vocês. Isso os incomoda de alguma forma?

Selton Mello – Ainda não vi o filme. Para trabalhar eu uso duas gavetas. O ator faz trabalhos em que concorda com algumas coisas e não com outras, como trilhas, escolhas, soluções de roteiros... Como diretor, eu só faço o que eu acredito, e até por isso o diretor tem trabalhado mais do que o ator. No caso deste filme, a base foi a confiança no Stephen Daldry (diretor do filme). Todo ator no mundo adoraria trabalhar com ele. O cara veio no Rio fazer um filme, e a gente teve esta sorte.

Wagner Moura – Eu apareço pouco, filmei apenas cinco dias. Meu personagem aparece em flashback, mas é um personagem muito bonito. Gosto de fazer coisas boas, não importa onde e qual o tamanho do papel. Para mim, é muito bacana que tenha um diretor como Daldry olhando para o Brasil desse jeito. Ele me prometeu que, quando tiver um personagem que fale inglês com um sotaque estranho, vai me chamar para interpretá-lo (risos). Trash e muitos outros filmes lançados neste ano fogem da fórmula de comédias populares que enchem os cinemas do Brasil. Vocês percebem uma mudança na produção nacional?

Selton – As comédias sempre serão sucesso. Desde as chanchadas, de Oscarito e Grande Otelo. É um traço do cinema nacional. Mas acho ótimo que a gente passe a ter outros gêneros, terror, suspense, drama... Até um tempo, você entrava numa locadora e tinha uma prateleira "cinema nacional". Acho que o momento muito rico dos seriados de televisão acaba influenciando no dinamismo criativo do cinema.

Wagner – Eu vejo um movimento em direção à diversidade. A retomada é muito recente. Quando a gente começou a fazer filmes, as opções eram muito restritas. Hoje, tem muita gente filmando com equipamentos e plataformas diferentes. As possibilidades são mais amplas. As series de tevê chegaram em um nível que a diferença entre a televisão e o cinema estão diminuindo. Estão muito parecidas esteticamente. A opção agora é do espectador, onde ele quer ver: em casa, no cinema ou num tablet.

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Misto de thriller de suspense e fábula infantil, o filme anglo-brasileiro Trash – A Esperança Vem do Lixo estreia hoje nos cinemas, reafirmando uma tendência recente de produções internacionais no Brasil, em especial no Rio de Janeiro.

Com direção do britânico Stephen Daldry (Billy Elliot), o filme foge completamente dos cartões postais cariocas. Os protagonistas são três meninos – Raphael (Rickson Tevez), Gardo (Eduardo Luis) e Rato (Gabriel Weinstein), que vivem num lixão na periferia do Rio de Janeiro.

Na trama, o trio encontra uma carteira cujo conteúdo gera uma perseguição aos garotos pela truculenta polícia carioca, pois pode complicar um político corrupto.

O roteiro é uma adaptação feita por Richard Curtis (Um Lugar Chamado Nothing Hill) do best-seller homônimo de Andy Mulligan. O elenco de Trash tem estrelas do cinema nacional como Selton Mello (O Palhaço) e Wagner Moura (Tropa de Elite), além das participações de Nelson Xavier, José Dummont, André Ramiro e Leandro Firmino.

No elenco internacional, com Martin Sheen (Apocalypse Now) e Rooney Mara (Terapia de Risco). O filme foi escolhido para o encerramento do Festival de Cinema do Rio de janeiro, na última terça-feira. "Exploramos um outro lado da cidade", explicou o diretor durante a coletiva de imprensa, realizada na segunda-feira (6). Ele salienta que a equipe se esforçou para fazer um filme realmente brasileiro, e não só gravado no país.

"A gente não queria um filme traduzido, mas algo que dialogasse com os sonhos, esperanças, sensos de justiça e de fé dessas crianças daqui. Eu estava com vontade de fazer um thriller que fosse em outro idioma, e de trabalhar com crianças. Foi uma experiência maravilhosa", contou o diretor.

O roteirista Curtis ressalta que a matéria-prima do roteiro é a "esperança, um sentimento que o povo brasileiro entende muito bem." Um dos atores brasileiros da produção, José Dummont concorda com o roteirista, e afirma que "o filme recupera a esperança. Nós, como atores, fazemos uma arte útil e delicada, de alguma forma, para contribuir para a melhoria do mundo."

Elenco

O diretor Daldry fez muitos elogios ao elenco brasileiro, em especial ao atores Selton Mello e Wagner Moura, destacando que ambos foram tão importante nos bastidores quanto na composição de seus respectivos personagens. "Eles são atores fantásticos, mas foram também colaboradores brilhantes, me ajudando e me ensinando a contar a história, pensando em personagens que estão nessa sociedade."

Segundo Selton, sua maior contribuição foi dar tranquilidade para que os três atores mirins brilhassem. Para Selton, trabalhar com Daldry reacendeu o seu "tesão" por atuar em cinema. "Esse trabalho para mim foi um renascimento como ator. Ele tem um jeito de trabalhar muito peculiar, um carinho pelos atores. Ele me levou para caminhos estimulantes e inusitados", disse.

Opinião

Bem intencionado, filme derrapa em fantasia melosa

Tinha tudo para dar certo. O diretor Stephen Daldry fez alguns dos mais belos filmes ingleses dos últimos 20 anos. O elenco brasileiro e internacional é formidável, desde os três atores mirins até o grande Martin Sheen.

O resultado final de Trash – A Esperança Vem do Lixo derrapa, porém, no roteiro pueril em tom de fábula cristã com direito a milagre dos peixes e lições de moral maniqueístas.

A luta dos três garotos pobres e brutalizados que usam seus expedientes malandros para derrotar o mal representado pelo "sistema", lembra mesmo alguns filmes dos Trapalhões. Tudo dentro da "cosmética da fome" definição perfeita da crítica Ivana Bentes sobre os filmes nacionais ambientados em favelas e outros cenários de pobreza, que parecem encantar tanto o olhar dos realizadores estrangeiro.

No lixão cenográfico de Trash, o diretor tentou fazer um Quem Quer ser um Milionário?, filme vencedor do Oscar em 2008, em que a miséria indiana era cenário e substância da superação de um jovem favelado, que fica rico em um programa de tevê.

O resultado técnico é impecável, algumas cenas de ação são muito bem dirigidas. Porém, a história soa irreal e fantasiosa. Um conto de fadas exótico e meloso demais. Cheio de boas intenções e mensagens de esperança, mas que não convence como grande cinema. O repórter viajou a convite da Universal Pictures.

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