• Carregando...

Uma boa parte do público presente na estreia de "Siré Obá – A Festa do Rei", nesta quarta (03) à noite, terminou de assistir ao espetáculo em uma grande roda. Ao som dos atabaques, a plateia foi convidada a subir ao palco e a dançar o toque dos orixás, divindades africanas que inspiram a montagem, parte da Mostra Baiana que integra o Fringe no Festival de Teatro de Curitiba.

O espetáculo cumpre sua proposta de unir religião e arte, com texto fiel aos fundamentos do candomblé. Através da música, dança e poesia, a montagem relata com simplicidade uma parte da história dos orixás e emociona ao relatar a relação entre divindades e sacerdotes.

O grupo só peca ao exagerar – pelo menos um tom acima – no discurso contra o racismo e a intolerância religiosa. Um ator interrompeu a peça para ler a troca de e-mails entre uma pessoa do elenco e alguém que se ofendeu por receber o anúncio do espetáculo com temática afro-brasileira. Ainda no meio do espetáculo, apagou-se a luz para ouvir uma voz gritando: "Macumbeiros!", simulando um ataque de intolerância.

No encerramento, a diretora, Fernanda Júlia, fez um discurso contra o racismo e aproveitou para dizer que Feliciano (pastor e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara) não a representa.

É compreensível que um grupo de teatro saído de Alagoinhas, no interior baiano, acostumado a se apresentar em terreiros de candomblé, aproveite o momento para levantar a voz para defender suas ideias diante de uma plateia com pouca tradição afro-brasileira.

Mas talvez o que Fernanda e seu grupo de Alagoinhas, do interior da Bahia, não perceberam é que sua contribuição ao combate à intolerância, pela arte e pela fé, torna o discurso dispensável. O público que lotou o Teatro José Maria Santos era uma mescla de adeptos do candomblé, admiradores da cultura africana e pessoas simplesmente dispostas a conhecer a cultura das casas de santo. Foi, portanto, o discurso certo para a plateia errada.

Siré Obá – A Festa do ReiTeatro José Maria Santos (R. Treze de Maio, 655), (41) 3322-7150. Hoje (4 de abril) às 18 e às 21 horas. R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]