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Quando a novela Belíssima estreou, há dois meses, uma música de sua trilha sonora logo chamou a atenção dos telespectadores mais atentos. "Bonita Demais", executada incessantemente durante os primeiros capítulos, tinha a cara de Tom Jobim, mas com um quê diferente. Explica-se: a faixa é realmente uma composição de Tom, porém regravada por seu neto, o pianista (e agora cantor) Daniel Jobim.

"Pois é, a música toca muito na novela. Mas não sei direito como ela foi parar lá. Acho que foi a Adriana Calcanhoto, que também está na trilha, quem a mostrou para os produtores", diz Daniel, de 32 anos. Seja como for, "Bonita Demais" foi gravada para um álbum-tributo ao seu avô, recém-chegado às lojas.

Falando de Amor – Famílias Caymmi e Jobim Cantam Antonio Carlos Jobim é, como diz o título, um encontro entre dois dos mais famosos clãs da MPB. Idealizado pela cantora Nana Caymmi, o disco não é um remake de Caymmi visita Tom, LP de 1963 que marcou a reunião entre os patriarcas das duas famílias. A idéia, segundo Nana, era resgatar as canções do início da carreira de Tom Jobim, quando ele ainda se apresentava em boates. Clássicos como "Samba do Avião" e "Desafinado" fazem parte do repertório, é claro, mas o material também é composto por raridades e redescobertas.

A começar por "Bonita Demais", mais conhecida na versão em inglês, registrada em 1964 pelo "Maestro Soberano" (forma como Chico Buarque se remete a Tom Jobim). A novidade é a letra em português, escrita por Vinicius de Moraes e encontrada recentemente pela nora de Tom. "A versão original é mais rápida e tem cordas, mas fui bem fiel na gravação. Fiz tudo acústico e sem o computador", afirma Daniel, justificando o sabor retrô da releitura.

O disco ainda traz outras pérolas (quase) perdidas. É o caso de "Canção para Michelle", antigo tema instrumental, agora com letra de Ronaldo Bastos e interpretação emocionada de Nana. Ou de "Para Não Sofrer (Velho Riacho)", música de 1962 nunca gravada por Tom, mas ressuscitada nas vozes de Paulo Jobim (filho do maestro) e Dori Caymmi.

Daniel, que toca piano em todas as faixas do CD, não se faz de rogado na hora de falar da obra do avô. "Não existe no Brasil um compositor tão bom quanto ele. Nem em cem anos vai existir". No entanto, erra quem vê no pianista apenas mais um parente de artista pronto para abocanhar, sem muito esforço, sua fatia no mercado.

Músico reconhecido internacionalmente, Daniel passa boa parte do ano envolvido em apresentações fora do país. E não tem pressa em se lançar como solista. "Existe uma cobrança, mas comigo as coisas são muito lentas", confessa. Apesar da resistência em gravar um disco individual, ele crê que pode emplacar inclusive entre o grande público. "Não vejo nenhum bloqueio nesse sentido. Meu repertório é formado por canções mais românticas, e as pessoas estão precisando disso". Por quê? "Porque o mundo está em guerra, oras", conclui, bem-humorado.

GGG

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