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 | Marcelo Andrade/Gazetado Povo
| Foto: Marcelo Andrade/Gazetado Povo

Após o Golpe Militar de 1964, os festivais de música popular brasileira, apesar do olhar atento e cada vez mais aquilino da censura, se transformaram em espaços improváveis para a liberdade de expressão, que se materializava em versos e melodias a cada certame, revelando talentos e fazendo história. E o público que acompanhou a competição promovida pela Record em 1966, com atenção de fervorosos fãs de telenovelas, viveu fortes emoções.

Duas canções, em princípio muito distintas entre si, polarizavam corações e mentes. De um lado, o lirismo delicado, cheio de segundas intenções políticas, de Chico Buarque, então um quase garoto de olhos verdes e ar tímido, que conquistou o país com sua "A Banda", marchinha interpretada por Nara Leão. Do outro, o regionalismo viril e arrebatado da moda de viola "Disparada", composição de Geraldo Vandré e Théo de Barros, que na voz forte e cheia de alma de Jair Rodrigues também arrebatou.

Assim como a singela "A Banda", "Disparada" continha subversão, questionamentos sobre o estado de coisas no país, traçando um paralelo entre a exploração do povo e a condição dos animais em uma boiada, capaz de se debelar a qualquer instante. Era outra banda a passar: "Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar/ E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo/ Estava fora do lugar, eu vivo pra consertar."

Para surpresa geral, as duas canções acabaram dividindo o primeiro lugar, em um empate histórico, e até hoje controverso – alguns creem que Chico teria feito questão que o resultado fosse esse, ao se descobrir vencedor. Afinal, "A Banda" e "Disparada" olhavam na mesma direção.

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