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"Há muito mais que se fazer num bar além de beber." A frase foi dita por Ieda Godoy, proprietária de dois bares da cidade, o Wonka e o Café Ma­­falda. É no primeiro que ela, sempre às terças-feiras, estabeleceu uma programação que pode parecer um tanto arriscada para uma empresária: o Vox Urbe, realizado com cocuradoria do poeta Ricardo Pozzo, que reúne no porão do bar público e poetas paranaenses que bradam suas poesias em alto e bom som.

"Meu propósito com o Wonka foi ultrapassar a frivolidade. Nas terças, nem eu nem os poetas pensamos em dinheiro", conta Ieda, cujo interesse pessoal pela literatura a leva a partilhar poesia com seus clientes. Sua peça preferida na decoração do Café Mafalda é um painel em ferro com um trecho de Walt Whitmann.

O Vox Urbe é filho legítimo do Porão Loquax, criado por Ieda e o poeta Mario Do­­mingues em 2006, com a finalidade de dar espaço a um público que, apesar de tradicional na cidade, deixou de ter espaço. "Talvez porque, como dizia o Leminski, a poesia é um ‘inutensílio’, algo que não serve a uma sociedade cada vez mais consumista", diz Ieda.

O Porão Loquax, que por semanas a fio ecoou vozes poéticas emergentes, criou um movimento dentro da literatura curitibana. "A partir dele, poetas trocaram informações e criaram grupos de estudo de literatura clássica", lembra Ieda.

O Vox Urbe, que, numa tradução do poeta Ivan Justen, convidado da próxima edição do evento, no dia 19, quer dizer "a voz que se afasta da cidade", nasceu com os mesmos propósitos. "É um ato de resistência à ‘urbefagia’ diária, que engole a ‘voz’ interior do ser!", diz a empresária. Para ela e Pozzo, a declamação poética nada mais é que um exercício de recuperação da voz do poeta, "arauto que alerta aos tempos, toma para si a ‘voz’ de todos!".

Ieda, com delicadeza poética, atribui ao "inconsciente coletivo" o surgimento de projetos semelhantes em outras cidades mundo afora no que, à primeira vista, parece um movimento coordenado para libertar a poesia do papel. Às terças-feiras, também acontece o Sarau Elétrico, em Porto Alegre, e o Corujão, no Rio de Janeiro. "Recentemente, fiquei sabendo que na Europa há uma tendência nas casas noturnas de realizar projetos no mesmo formato. Quem sabe não seja o ‘inconsciente coletivo’ que esteja despertando para essa necessidade de fazer renascer a poesia em cada um de nós?"

Público

Espaços como esses são absolutamente necessários em uma cidade de muitos e, na opinião de Ieda, excelentes poetas. Entre eles, ela cita alguns que já participaram das noites poéticas no Wonka: Edson Falcão, Ivan Justen Santana, Rodrigo Madeira, Jaques Brand, Paulo Bearzoti, Mario Domingues, Assionara Sousa, Barbara Lia, Andreia Carvalho, Ricardo Corona, Luiz Felipe Leprevost, Ricardo Pedrosa Alves "e tantos outros".

Para Ieda, o Vox Urbe serve para formar plateia para a poesia e a literatura. "Quem lá comparece, aprecia e torna-se público fiel", assegura, sem se esquecer de destacar que é preciso vencer uma resistência inicial que se costuma ter a eventos literários.

Citando novamente Le­­minski, ela lembra que "não é só aquele que escreve poesia que é poeta, mas quem se sensibiliza com a poesia. Assim, quem não é poeta corre o risco de tornar-se!".

Serviço:

Vox Urbe, no Wonka Bar (R. Trajano Reis, 326), (41) 3026-6272. Todas as terças-feiras, às 21 horas. No dia 19, o poeta convidado é Ivan Justen e, no dia 26, é Fábio Weintraub.

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