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Cinéfilos, acalmai-vos. Embora pareça que o mercado exibidor será para todo o sempre dominado pelos blockbusters King Kong, As Crônicas de Nárnia e Harry Potter e o Cálice de Fogo, muito em breve o cenário deve mudar. Na medida em que se aproxime o anúncio dos filmes indicados ao Oscar 2006, em final de janeiro, o circuito prepara-se para receber a safra dos longas-metragens chamados "sérios e artísticos".

Vencedor dos prêmios de melhor filme e direção das associações de críticos de Nova Iorque, Los Angeles, Boston e São Francisco, além de ter sido indicado a sete Globos de Ouro, o belo e sensível O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee, promete repetir no Brasil o frisson que está causando nos Estados Unidos. Trata-se da adaptação de um conto premiado da escritora norte-americana Annie Proulx (de Chegadas e Partidas) sobre o amor secreto e proibido entre dois caubóis, Ennis Del Mar (Heath Ledger, um dos favoritos ao Oscar de melhor ator) e Jack Twist (Jake Gyllenhall, cotado como coadjuvante).

Em exibição num número limitado de telas nos EUA, Brokeback Mountain, além de ser uma quase unanimidade entre os críticos, vem quebrando a resistência do público em relação à temática gay até mesmo em estados conservadores, como a Georgia, e atraindo um número surpreendente de espectadores. A espectativa é que, caso seu favoritismo ao Oscar se confirme, o vencedor do Festival de Veneza deste ano ganhe maior visibilidade e se torne sucesso comercial. É esperar para ver.

Vida real

Outro título bastante aguardado é o drama político Boa Noite, e Boa Sorte, também com forte chances a múltiplas indicações ao Oscar, inclusive na categoria de melhor filme. Segundo longa-metragem do ator e agora diretor George Clooney, a produção reconstitui os embates, na década de 50, entre o âncora da rede CBS Edward S. Murrow (David Stathairn, premiado em Veneza) e o polêmico senador Joseph McCarthy, responsável pela perseguição, conhecida como "caça às bruzas", de cidadãos norte-americanos acusados de serem comunistas ou simpatizantes da esquerda durante os tempos da Guerra Fria.

Igualmente baseado em fatos reais e consagrado pela imprensa especializada, Capote marca a estréia de Bennett Miller na direção e descreve a relação entre o jornalista e escritor Truman Capote e criminosos responsáveis pelo assassinato de uma família no estado de Kansas em 1959. Dessa aproximação surgiu a base para o livro-reportagem A Sangue Frio, marco do new journalism que faria escola em todo o mundo. O ótimo Phillip Seymour Hoffman (de Felicidade), por seu elogiadíssimo desempenho no papel-título, é forte candidato ao Oscar e ao Globo de Ouro de melhor atuação masculina. Catherine Keener (de Quero Ser John Malkovich) também está sendo muito elogiada no papel da escritora Harper Lee (autora de O Sol É para Todos), melhor amiga de Capote.

Falando em cinebiografias, o sucesso da temporada de fim de ano é o musical Johnny e June, cujo foco é centrado na tumultuada relação amorosa entre os cantores Johnny Cash (Joaquin Phoenix), um dos grandes mitos da música pop mundial, e June Carter (Reese Witherspoon, favorita ao prêmio de melhor atriz). A direção é de James Mangold (de Garota Interrompida)

Terrorismo

Ainda na seara dos filmes baseados em fatos verídicos, Steven Spielberg lança seu segundo longa em menos de 12 meses – o primeiro foi A Guerra dos Mundos. Munique reconstitui o assassinato por terroristas palestinos de 11 atletas israelenses nos Jogos Olímpicos de 1972, realizados em Munique, na Alemanha. A produção, cotada para indicações em várias categorias do Oscar, reconta a história de como um esquadrão do serviço secreto de Israel cumpre a missão de vingar as mortes dos esportistas judeus.

Por último, um título bastante aguardado é o melodrama Match Point, que, segundo a crítica mais exigente, marca o retorno do cineasta Woody Allen à boa forma. Para realizá-lo, o diretor trocou sua amada Nova Iorque por Londres. É na capital inglesa que se desenrola a trágica história de um ambicioso jogador de tênis (Jonathan Rhys Myers, de Velvet Goldmine) rumo à alta sociedade britânica. O passaporte para esse mundo com o qual ele tanto sonha é o casamento com uma jovem rica (Emily Mortimer). O que ele não espera é que seus planos entrem em rota de colisão com a personalidade obsessiva e vingativa de uma americana (Scarlett Johansson, de Encontros e Desencontros) que colocará tudo em risco.

Para arrematar, um pequeno filme que pode surpreender e dar muito o que falar no Oscar é a comédia dramática A Lula e a Baleia, de Noah Baumbach, diretor e roteirista que costuma trabalhar com Wes Anderson (de Os Excêntricos Tenembaums). Inspirado em sua história familiar, o longa, vencedor dos prêmios de melhor direção e roteiro no último Festival de Sundance, discute as conseqüências do divórcio na vida de um casal de escritores, vividos pelos excelentes Jeff Bridges e Laura Linney, e de seus filhos adolescentes. É um dos melhores do ano.

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