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Com um pé no sagrado e outro no profano, o DVD Love You Madly + A Concert of Sacred Music at Grace Cathedral (ST2 Video) é, por si só, um símbolo da música negra norte-americana. Ela também, oscilando entre o religioso e o mundano. Aqui, o personagem é uma das figuras cuja história confunde-se com a do jazz: Duke Ellington.

O documentário Love You Madly, produzido por Ralph J. Gleason com o apoio de uma rádio e de uma emissora pública de tevê, faz um perfil de Ellington, registrando bastidores de shows e conversas mais ou menos descompromissadas. A segunda parte do DVD traz o concerto de música sacra composto especialmente para a Catedral da Graça, de San Francisco, por ocasião de sua reinauguração.

Edward Kennedy Ellington, ou Duke, foi o pianista e líder da orquestra que definiu gostos musicais entre os anos 40 e 60 (e ainda os influencia) por meio de composições inesquecíveis. "Take the A Train" (composta com Billy Strayhorn), "Mood Indigo", "Sophisticated Lady" e "It Don’t Mean a Thing (If It Ain’t Got that Swing)" são algumas delas.

Na primeira metade dos anos 60, o "duque" vivia em San Francisco (Califórnia), dedicando-se às apresentações no Basin Street West – clube noturno que devia sua fama à orquestra de Ellington e alternava outras atrações; no filme, um luminoso anuncia show do também pianista Dave Brubeck.

Em 1964, o maestro recebeu um convite para tocar nos Festivals of Grace, uma série de eventos organizados para celebrar a conclusão da reforma que restabeleceu a Catedral da Graça, construção gótica tida como um dos marcos da cidade, destruída pelo terremoto de 1906. Para quase 60 anos de espera, um ano de festa até que foi pouco.

Houve discurso do líder negro Martin Luther King e um concerto com regência do argentino Lalo Schifrin, que incluiu uma versão de "A Love Supreme", de John Coltrane, para coral. No dia 16 de setembro daquele ano, Ellington, em um terno branco impecável (supõe-se que seja branco pela imagem bicolor do vídeo), subiu ao palco da igreja.

Nas palavras dos padres, o músico ganhou um dom divino e o concerto sacro foi uma forma de retribuir essa dádiva. A lista de composições do concerto, de uma forma ou de outra, refletem as três primeiras palavras da Bíblia: "No princípio, Deus...", segundo explicação de Ellington. A novidade, escrita para o evento, foi "In the Beggining, God", sobre o início dos tempos, quando não havia céu, nem Terra, nada.

Com John Hendricks (vocais), Paul Gonsalves e Johnny Hodges (saxofonistas), mais a cantora de gospel Esther Marrow e o dançarino Bunny Briggs (que faz um longo sapateado), a orquestra enfileira temas religiosos como "Ain’t But the One" e "The Lord’s Prayer".

O documentário, elogiado pelo próprio duque, mostra desde uma cochilada do maestro no sofá entre dois shows até uma aula sobre estalar os dedos para parecer descolado. O responsável pela qualidade do filme é Ralph J. Gleason (1917 – 1975), homem que dedicou a vida ao jazz e, entre livros e programas de tevê, criou a série Jazz Casual (hoje nome do selo administrado pelo filho, Toby), reunindo apresentações raras de Count Basie e Dizzie Gillespie entre outros. GGGG

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