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PRATELEIRA

• História do Paraná, de Romário Martins. Obra que rendeu a este tipógrafo, jornalista e historiador autodidata o título de maior historiador do Paraná. Foi reescrita ao longo dos anos, até que o autor consolidasse o trabalho, em 1937.

• O Paraná no Centenário, de José Francisco da Rocha Pombo. Autodidata, nascido em Morretes em 1857, publicou o livro em 1900, quarto centenário do descobrimento do Brasil.

• Coleção História do Paraná. Trabalhos publicados em 1969, pela Grafipar, por autores como Altiva Pilatti, Brasil Pinheiro Machado, Cecília Maria Westphalen e Ruy Christovam Wachowicz.

• Coleção História do Paraná. São cinco volumes publicados em 2001, cada um enfocando um aspecto da formação do Paraná, escritos por professores da UFPR, em convênio com a Secretaria de Educação do Paraná.

"Brasil Pinheiro Machado, nas aulas de modelos de explicação histórica e historiografia brasileira, costuma dizer que o melhor modo de estudar História é ver como os historiadores a conceberam em seus escritos." A frase foi escrita pela historiadora Cecília Westphalen para compor a orelha da edição de 1980 do livro O Paraná no Centenário, de José Francisco da Rocha Pombo, autor que este ano completaria 150 anos.

Antes dele, foram os viajantes os primeiros a registrar a História do Paraná em relatos que descreviam, sem preocupação com um viés analítico, as condições de vida e a mentalidade dos primeiros colonos. Exemplos são Hans Staden, que chegou à ilha de Superagüi, em Guaraqueçaba, em 1549; e – bem mais tarde – o cientista francês Auguste de Saint-Hilaire, que visitou o estado, então comarca de São Paulo, no início do século 19.

Entre o final do século 19 e início do século 20 – e já de olho no passado – Rocha Pombo e Romário Martins foram os responsáveis pela produção de estudos que plantariam os marcos definitivos da historiografia do Paraná.

"De forma autodidata, estes historiadores passaram a produzir com mais rigor", explica o historiador Renato Augusto Carneiro Junior. Os dois autores escreveram, cada um a seu tempo, sua História do Paraná – Rocha Pombo escreveu, inclusive, uma grande História do Brasil.

"Romário Martins adotou o termo 'paranismo', preocupado em buscar uma identidade para o estado, que o diferenciasse do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina", continua Renato Carneiro.

A visão tradicional da história desses autores, mais atenta à ordenação causal dos fatos e à consideração dos grandes homens, seria quebrada por uma nova geração de historiadores que, na década de 60, seriam os pioneiros do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná. Entre eles, Cecília Westphalen, Altiva Pilatti Balhana, Brasil Pinheiro Machado e Ruy Wachowski.

Naquele período, havia a preocupação em tratar a História, de modo geral, sob o ponto de vista demográfico, econômico e social.

A História do Paraná escrita por Wachowski em 1988, ainda hoje é utilizada em escolas do estado e é prova da herança deixada por esta primeira geração de acadêmicos.

Em meados do anos 80, contudo, a escrita da historiografia do estado toma novo rumo, seguindo as transformações mais amplas verificadas na historiografia mundial.

Há "um relativo abandono das análises estruturais em proveito da interpretação dos fatos históricos. Interfaces menos intensas com a demografia e a economia e diálogos mais extensos com a antropologia e a literatura, e assim por diante", explica o professor Dennison Kursk, do Curso de História da UFPR.

Com a influência da escola francesa dos Annales e da metodologia marxista, a "grande história" dá lugar a uma história que procurava dar voz aos vencidos, para além das versões oficiais. No entanto, em plena ditadura brasileira, havia uma franca oposição a essa nova tendência, como conta Renato Carneiro.

Com a superação desta resistência, "a produção dos cursos de História das universidades passa a se preocupar com uma história quase anônima, digamos que praticamente sem personagens. Mas, já há algum tempo, tem-se assistido ao retorno de gêneros como as biografias, porém, com uma visão mais abrangente totalmente diferenciada daquela imagem política e tradicional que se fazia dos sujeitos históricos", explica Etelvina Trindade, autora de estudos sobre as mulheres na História do Paraná.

Pesquisas mais sensíveis e que abordam temas pontuais como alimentação, gênero, movimentos sociais e religião tornam a História do Paraná mais palatável aos leitores. "É evidente que esse temas agradam a um público mais diversificado. Vale lembrar, todavia, que a preocupação do historiador não é tanto com o leitor, mas em produzir conhecimento histórico.

No entanto, trabalhos que abordam objetos mais ligados à História das sensibilidades, do mundo privado, das relações de gênero, na História do Paraná permanecem, na maioria das vezes, inéditos, à mercê das dificuldades encontradas no mercado editorial, ficando reservados para as consultas acadêmicas nas prateleiras das bibliotecas", conta Trindade.

Tornar público o conhecimento produzido é, aliás, o grande desafio dos historiadores (leia matéria na pág. 2), visto que hoje já não se escrevem "Histórias do Paraná", até há pouco tempo bases para a educação escolar.

"Hoje ninguém quer fazer essa síntese, essa história monumental, pois consideramos a existência de várias histórias, não só de uma", considera Renato Carneiro.

Basta juntar o quebra-cabeça formado por cada estudo para se perceber uma congruência temática. "Colonização, imigração, aculturação, desenvolvimento econômico e evolução política ainda parecem ser as ênfases nas pesquisas que são desenvolvidas", diz Dennison Kursk.

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