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Não há porque duvidar de Alcione quando ela descreve o método de seleção das canções para um disco. No caso de Acesa, o 34.º álbum de sua carreira, a maranhense conta que partiu de "um balaio" de mais de 500 músicas, oriundas tanto de compositores novos quanto de criadores consagrados, com quem está habituada a trabalhar há décadas, como Serginho Meriti ou Paulinho Rezende. "Dessas, faço uma triagem rigorosa e fico com umas 40, 50, para, no fim do processo, ficar com umas 15. Muita coisa boa fica de fora", conta a cantora, em tom de lamento.

Talvez por isso mesmo seja um pouco frustrante ouvir o resultado dessa maratona. O CD parece não refletir tanto esforço dedicado à seleção de boas músicas. Acesa peca, de forma clara, pe­­la irregularidade do repertório: se há ótimas composições, como "O Samba Me Chamou" (de Som­­bri­­nha e Marquinho PQD) e a própria faixa-título do álbum (assinada por Roque Ferreira e Telma Tava­­res), há no cardápio alguns abacaxis difíceis de serem descascados.

Entre o tango, o bolero e o samba-canção, "Eu Não Domino Essa Paixão" (de Neneo e Paulinho Rezende), música que abre Acesa, Alcione tropeça na mesmice de uma letra "dor-de-cotovelo" formulaica, igual a dezenas de outras que já gravou em sua carreira de 36 anos. Uma artista dessa estatura não deveria se perder em meio a bobagens tão genéricas e de gosto duvidoso. A mesma lógica vale para "Dama da Paixão" (Jefferson Junior e Umberto Tavares), outro escorregão na breguice.

O lado bom

Alcione conta que, também estimulada pela redescoberta do bom samba pelas novas gerações, quis dar em Acesa mais espaço ao gênero. Esse desejo, que poderia muito bem ter norteado todo o disco, se materializa em bons momentos como "Nair Grande", homenagem de Telma Tavares e Paulo César Feital à lendária lendária integrante do Bloco dos Arengueiros, que viria a dar origem à Estação Primeira de Mangueira. E também se faz presente em "Chutando o Balde", tema de Nei Lopes (um dos compositores favoritos da Marrom) que ela canta com Wilson Simoninha, autor do arranjo calcado no naipe de metais.

O desnível de qualidade entre as faixas de Acesa é compensado, ao menos parcialmente, pela sempre bela voz de Alcione. O negócio é fazer o mesmo que a Marron: peneirar e ficar com o que o disco tem de qualidade. GG1/2

Serviço

Alcione. Sony BMG. Preço médio: R$ 21,60.

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