• Carregando...
 | Jefferson Coppola / Folha Imagem
| Foto: Jefferson Coppola / Folha Imagem
 |

Livro

Pequena História da Música Popular: Segundo Seus Gêneros

José Ramos Tinhorão. Editora 34, 352 págs., R$ 49.

Um dos autores mais importantes da história da música brasileira, o jornalista musical e pesquisador José Ramos Tinhorão está, como de costume, produzindo. Seu mais novo livro em andamento extrapola os primórdios da cultura do Brasil, que ele conhece tão bem, para falar da influência de Portugal sobre a criação dos Reis do Congo muito antes da chegada de Cabral.

Em meio aos sucessivos mergulhos intelectuais do pesquisador, obras importantes de sua autoria acabaram esquecidas em longos períodos de esgotamento – situação que começou a ser revertida no ano passado, com o relançamento do polêmico livro de estreia de Tinhorão, Música Popular: Um Tema em Debate, de 1966, que não ganhava reedições desde 1997.

O mais novo relançamento é o bem-sucedido Pequena História da Música Popular: Segundo Seus Gêneros, lançado em 1974, cuja edição anterior era ainda mais antiga – data de 1991.

"Agora, ao mesmo tempo em que estou produzindo coisa nova, estou procurando obras anteriores, porque acho injusto deixar de lado coisas que continuam tendo interesse", explica Tinhorão, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo.

Crítica

No livro, o pesquisador narra com extraordinário rigor desde a história dos gêneros populares como modinha e lundu até invenções modernas como a bossa nova, o tropicalismo e a lambada conforme a época em que apareceram.

Munido de farta documentação, Tinhorão trata de questionar o que seriam equívocos correntes na literatura da área, e ousa ao submeter alguns medalhões da história da música brasileira ao duro crivo de sua interpretação.

É quando o pesquisador faz jus à ferocidade pela qual é conhecido ao citar com desprezo a Jovem Guarda, que define como "rock comercial diluído", e cujos artistas apresenta como "ídolos macaqueadores de ritmo de massa". Ou ao explicar com ironia o nascimento da bossa nova, que seria invenção de uma juventude da classe média definida pelo então recém-surgido isolamento social da Zona Sul carioca.

Mesmo a estética comprometida política e socialmente da MPB ligada ao Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional de Estudantes (UNE) da chamada música de protesto é desabonada, enquanto o desinteresse político de Caetano Veloso merece igualmente um bom número de páginas críticas.

Iconoclasta

A iconoclastia continua forte na fala de Tinhorão, que acaba de completar 85 anos. "Não mudou nada, porque eu via o que estava acontecendo de um ponto de vista do materialista histórico", diz.

Alguns de seus fundamentos ficam claras no livro: a música popular, fruto das cidades e de suas complexas populações, deve ser analisada à luz de processos sociais. E apenas a influência cultural assimilada de forma "natural e democrática", como é o caso da guarânia – nascida de uma continuidade histórica e geográfica com o Paraguai –, merece crédito, ao contrário da imposição da indústria cultural norte-americana que caracterizaria o iê-iê-iê – sintomaticamente preterido pelo livro.

A influência estrangeira sobre a bossa nova, evidentemente, não passa incólume. "Parece tão clara, mas levei tanto pau por causa disso que você nem pode avaliar", conta Tinhorão, para quem algumas das suas afirmações polêmicas são facilmente verificáveis – caso da semelhança entre "Mr. Monotony", de Irving Berlin, cantada por Judy Garland em 1948, e "Samba de Uma Nota Só", de Tom Jobim, cuja primeira gravação data de 1960. "Mas a bossa nova é como religião. Você vai usar dados objetivos e racionais para tentar convencer, mas não adianta discutir com quem tem fé. Esse argumento é insuperável. E Tom Jobim é o Deus de quem acredita."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]