Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Memória

Escritora da vida inteira

A romancista Rachel de Queiroz, cujo centenário será comemorado na próxima quarta-feira, transitou por diversos gêneros narrativos, do infantil ao teatro, e foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras

Rachel de Queiroz, no dia 4 de agosto de 1977, durante a sua posse na Academia Brasileira de Letras | Acervo ABL/Divulgação
Rachel de Queiroz, no dia 4 de agosto de 1977, durante a sua posse na Academia Brasileira de Letras (Foto: Acervo ABL/Divulgação)

Rachel de Queiroz, que tem seu centenário de nascimento comemorado na próxima quarta-feira, dia 17, escreveu o seu nome na história da literatura brasileira por vários motivos. A começar pelo fato de ela ter publicado, com apenas 19 anos, o seu primeiro livro, O Quinze, de 1930, considerado até hoje um dos clássicos da prosa nacional. Ela apareceu em meio ao chamado grupo do "romance de 30", do qual fazem parte autores como Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado.

A escritora transitou por vários gêneros, da crônica ao teatro, in­­cluindo narrativa infantil. No dia 4 de agosto de 1977, ela foi eleita para a cadeira de número 5 da Academia Brasileira de Letras (ABL), tendo disputado a eleição com Pontes de Mi­­randa. O feito permitiu que, posteriormente, outras seis mulheres viessem a ingressar no time dos imortais das letras brasileiras.

No Ceará, estado onde a escritora nasceu, 2010 é todo comemorações. Lá, foi instituído o Ano Rachel de Queiroz. A Bienal Internacional do Livro, realizada em Fortaleza, teve como tema a obra de Rachel. As universidades locais têm promovido ciclos de debates sobre o projeto estético da autora.

A professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Fernanda Coutinho vai ministrar, a partir de dezembro, um curso sobre Rachel em Colônia, na Alemanha. "Sua obra, mesmo guardando um sabor de nordestinidade, vai além do que se poderia chamar regionalismo, pois seus personagens vivem dramas que são os das personagens marcantes de tempos e lugares diversos", afirma Fernanda.

A professora da UFC observa que, nos livros de Rachel, em especial em O Quinze, além do caráter mo­­derno da linguagem, e do localismo na temática, é possível acrescentar um sentido de vigilância da escritora com relação às incongruências do poder, o que redunda na literatura voltada para a crítica social. "Mas Rachel vai além disso, porque a própria condição de existência digna para a mulher, como agente de seu próprio destino, é discutida. A opção pelo trabalho, em vez de simplesmente capitular diante da convencionalidade do papel de mulher casada, é algo marcante na obra dela", afirma.

Rachel tratou de diversos assuntos: a seca, a passagem do tempo, a morte, o banditismo, as lutas políticas de cunho ideológico, o Nordeste, seus tipos e hábitos. "Rachel foi uma escritora da vida inteira: uma pessoa devotada a seu ofício, concomitante, de feiticeira e de domadora das palavras", define a professora da UFC. A autora tinha um pé no mundo letrado, mas fazia questão de estabelecer pontos de contato com as raízes nordestinas. Mesmo com residência no Rio de Janeiro, costumava passar alguns meses em sua fazenda, chamada Não-me-deixes, em Quixadá, no Ceará.

"A fazenda Não-me-deixes re­­presentava um pedaço da alma de Rachel. Ela gostava de estar lá para levar a vida simples de sertaneja, sentindo o tempo passar mais de­­vagar, entretendo-se com a culinária de que foi exímia praticante, e, principalmente, ouvindo as pessoas falarem de suas vidas: os tropeços, as surpresas, o nunca aprender de tudo a viver", finaliza Fernanda.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.