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Rubem Fonseca, o veterano da literatura, se aventura pela obra aberta que é a televisão. | Agência O Globo
Rubem Fonseca, o veterano da literatura, se aventura pela obra aberta que é a televisão.| Foto: Agência O Globo

Um dos autores mais influentes de sua geração, Rubem Fonseca é o mais novo nome da literatura brasileira na lista de escritores com trabalhos para a televisão. Aos 90, ele escreve o argumento de uma telenovela para a TV Globo, ainda sem previsão oficial de data para estrear.

Ele não será, naturalmente, o autor. O trabalho ficará por conta de Alcides Nogueira e Bia Corrêa do Lago, filha de Rubem – um modelo bastante comum, conforme lembra o escritor Mário Prata, que escreveu sua primeira telenovela, “Estúpido Cupido”, na década de 1970.

Com duração bem maior e capítulos mais longos, o formato hoje se tornou um trabalho insano, sobretudo para escritores que já estão mais velhos.

“Há dez anos fui escrever ‘Bang Bang’ [2005, Rede Globo] e me arrebentei todo”, conta o escritor, hoje com 70 anos.

É por isso que a atual novela das nove, que marca a volta de Benedito Ruy Barbosa, é assinada não apenas por ele, mas também por Edmara Barbosa e Bruno Luperi Barbosa – filha e neto do consagrado novelista de 84 anos. “Qualquer autor de novela hoje tem que trabalhar com mais duas pessoas, senão não consegue”, diz Prata.

Ainda que se trate apenas de um argumento ou sinopse, a notícia de que uma história inédita de Rubem Fonseca vai virar novela é boa, diz o escritor. “É absolutamente normal”, lembra. “Mas é legal [alguém como Fonseca] vir com uma ideia para outras pessoas desenvolverem”, diz.

A Gazeta do Povo falou com outros três escritores brasileiros sobre como enxergam o formato e que tipo de novela fariam. Veja o que eles disseram:

1. Marçal Aquino

Autor das séries da TV Globo “Força Tarefa” (2009-2011) e “O Caçador” (2014) ao lado de Fernando Bonassi, o escritor diz que não encararia escrever uma telenovela – para ele, trabalho de alta complexidade, com dimensões comparáveis à de uma trilogia de romances. “Pra ser realista: não domino a carpintaria”, diz.

Como seria? “Não faria nada num mundo mágico. Faria algo muito colado no real. Para ser coerente, teria que ter uma porção de trama policial, criminal. Teria que ter um fio dos relacionamentos entre pessoas – paixões, amores, temas presentes em minha obra, sobretudo nos últimos anos (tenho me afastado de comentar a violência imediata e para falar de relacionamento). E não deixaria de botar humor na história. Este é o tripé que faria. Mas a trama, eu teria que conceber.”

2. Sérgio Sant’Anna

Quatro vezes ganhador do prêmio Jabuti, o escritor carioca diz que jamais pensou em escrever para o formato. “Escrevo muito devagar. Não daria conta, nem de uma novela ruim nem boa – nem estou fazendo juízo de valor. Com aquela quantidade de personagens que tem que acompanhar, eu enlouqueceria”, brinca. Mas o autor conta que acharia interessante criar um argumento.

Como seria? “Se aproveitassem uma história minha, eu acharia legal. Se tivesse que oferecer um argumento, ofereceria o ‘O Homem Mulher’ [conto marcado por erotismo sobre um ator que se vestia com roupas de mulher]. É um conto dividido em duas partes, e tem vários personagens. Acho que poderia ser encaminhado. Mas outra pessoa teria que fazer.”

3. Michel Laub

O escritor gaúcho conta que também não daria conta do ritmo industrial de escrita que a novela exige. Mas suas razões para nunca ter pensado em telenovela também tem a ver com sua escrita.

Como seria? “A novela é comparável com o folhetim antigo. São romances realistas, com encadeamentos de trama. Faço romances psicológicos, curtos, com menos história e mais ruminação. Quando faço diálogos, dificilmente são diretos, passam sempre pelo filtro do narrador. É absolutamente diferente do formato da novela – cena a cena, como num filme ou série, uma narrativa típica da literatura realista. Não estou muito familiarizado com o que se faz hoje [em telenovela] e com o que seria ou não uma inovação. Mas acho não é exatamente o tipo de coisa que faço.”

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