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O Hospital Santa Teresa hoje: pacientes remanescentes ainda vivem no espaço. | Divulgação
O Hospital Santa Teresa hoje: pacientes remanescentes ainda vivem no espaço.| Foto: Divulgação

Foi na noite de quinta-feira (29) a estreia do documentário "Santa Teresa", do cineasta Eduardo Baggio, uma das atrações do Festival Olhar de Cinema dentro da mostra Mirada Paranaense, que dá espaço ao cinema local na programação nobre.

O filme será exibido novamente nesta sexta-feira (30), às 20h45, na Cinemateca de Curitiba.

O documentário, parte do trabalho do doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo, fala sobre o hoje Hospital Santa Teresa, São Pedro de Alcântara,(Santa Catarina, Grande Florianópolis), que foi uma colônia de tratamento para portadores de hanseníase.

A partir de depoimentos de funcionários e de pacientes remanescentes (que praticamente viveram a vida ali e hoje tem direito garantido pelo estado em permanecer no local), o filme reflete sobre a política de isolamento do tratamento. Todas as pessoas levadas para tratamento eram praticamente arrancadas de suas casas pela polícia e levadas para as colônias.

Além do Santa Teresa, vários locais do país tinham seus hospitais (construídos na sua maioria nas décadas de 1930 e 1940), em uma forte política de estado do governo Getúlio Vargas, que inaugurava pessoalmente a maioria dos espaços.

As colônias, como eram chamadas, abrigavam os doentes em uma estrutura bonita, bem cuidada e cercada por natureza. Era uma estratégia manipuladora, para facilitar a aceitação por parte dos doentes.

Um dos entrevistados salienta que essa foi uma medida bastante inteligente, já que o governo vendia a ideia de que, além do tratamento, as pessoas também se divertiriam e conviveriam normalmente, em uma estrutura semelhante a de uma cidade.

Entretanto, os depoimentos mostram o quanto as sequelas psicológicas do isolamento podem ser mais devastadoras do que o problema físico, com a fragmentação das famílias e a perda da própria identidade.

Também é um tema pertinente hoje, em que a sociedade discute a internação compulsória para usuários de crack.

ImagensBaggio conseguiu resolver bem a falta de imagens de arquivo do documentário: há um registro de uma inauguração feita por Getúlio, além de fotografias de pacientes que vivem no espaço há décadas. A narração sobre o processo, presente em algumas partes, e os bons depoimentos, ajudaram a suprir essa lacuna.

O cineasta também registrou o cotidiano de hoje - há, inclusive, um trecho forte, com uma enfermeira trocando o curativo de um paciente.

No debate após a exibição, Baggio contou que essa foi uma discussão longa com sua orientadora de doutorado, e que ambos concordaram que ela deveria entrar. "Senão, ficaria muito asséptico", explicou.

Avaliação: GGG (bom).

Serviço"Santa Teresa"Cinemateca de Curitiba (R. Pres. Carlos Cavalcanti, 1174 -- São Francisco), (41) 3321-3310. Sexta-feira (30), às 20h45. R$ 5 e R$ 2,50 (meia-entrada).

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