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A estilista Vivienne Westwood | AFP PHOTO / CARL COURT
A estilista Vivienne Westwood| Foto: AFP PHOTO / CARL COURT

O espetáculo do Grupo Corpo, apresentado em Curitiba no último fim semana, trouxe dois balés completos em termos de coreografia, música, cenário, figurinos e produção como um todo. Quem foi com grandes expectativas para assistir a uma das mais tradicionais companhias de dança do Brasil não se decepcionou. O grupo mineiro trouxe o profissionalismo de quem tem 37 anos de palco e mantém uma alta capacidade de pesquisa para criação na dança.

Inspirado nos cativos da província angolana de Benguela, o balé Benguelê mostrou traços da dança afro como força e sensualidade, mas não caiu em clichês nem fez movimento caricatos do que seria a dança africana. A coreografia mostra uma pesquisa de referências que foram adicionadas à própria identidade do Corpo ao dançar. A direção musical de Benguelê é de João Bosco, que também é o intérprete das músicas. A trilha sonora foi fundamental na condução do espetáculo até cenas que traziam mais brasilidade e a influência que a dança popular brasileira tem da África, mais uma vez, sem caricaturas.

Se em algumas criações coreográficas a utilização de recursos tecnológicos acaba gerando uma quebra nem sempre positiva no andamento do espetáculo, no caso de Benguelê ocorreu o oposto. A projeção em telão de imagens dos bailarinos criou, em um primeiro momento, uma ilusão de ótica como se os o mesmos estivessem flutuando em cena e, depois, entrou em sincronia com os bailarinos que, de fato, estavam no palco. O efeito foi a sensação de aproximação do público com a cena e com o enredo da coreografia.

Nos dois balés, o uso das cores na cenografia e no figurino contribuiu para a variação da intensidade das cenas, mas sem tirar o foco das coreografias. A cor alaranjada do cenário criado pela projeção em determinado momento remete ao pôr do sol da África, em Benguelê, ou no colorido das saias em Sem Mim não foram mero acessórios, mas parte do contexto coreográfico.

Sem Mim veio com a mesma vivacidade do primeiro balé, mas, ao mesmo tempo, mais leve. Um tecido suspenso sobre o palco em certo momento tornou-se uma tenda transparente onde foi um dançado um dueto que emocionou a plateia e despertou aplausos no meio da apresentação. A música, composta por Carlos Núñes e José Miguel Wisnik foi construída sobre o "Ciclo do Mar de Vigo", do jogral do galego Martín Codax, que viveu entre os séculos 13 e 14. Com intérpretes como Milton Nascimento e Chico Buarque, a trilha embalou o crescimento da coreografia que, com sutileza, auxiliou os bailarinos a exibirem ainda mais seu alto nível técnico e artístico.

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