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| Foto: Brendan McDermid/Reuters

Ciberativismo

O Ideário de Assange

Julian Assange acredita que a transparência radical dos governos torna as sociedades mais democráticas e pode ser conseguida a partir da seguinte dinâmica: o vazamento de documentos secretos faz com que governos tenham de aumentar seus custos para melhorar o sistema de sigilo de seus dados. A cada vazamento, novos recursos são empregados para "fechar" as informações para uso estratégico.

Segundo Assange, quanto mais os governos tentam tornar sigilosas as informações, mais "engessados" vão ficando seus sistemas de inteligência, o que os torna ineficientes, reduzindo a capacidade governamental de ação. A filosofia de Assange está bem explicada por Aaron Bady, no blog http://zunguzungu.wordpress.com/, no qual descreve a batalha do Wikileaks por transparência radical

É interessante constatar que, durante a semana, um dos comentários mais frequentes foi que o vazamento de tantos documentos sigilosos só foi possível porque os Estados Unidos tornaram seus sistemas de inteligência integrados, a fim de facilitar a análise de seus agentes. Essa "abertura" ocorreu após o 11 de setembro de 2001, pois, a avaliação feita era que o compartilhamento de informações evitaria que novos ataques terroristas possam ocorrer.

O dilema atual é claro. Pode-se reduzir o compartilhamento de dados a fim de evitar vazamentos, assumindo, assim, o risco de reduzir a capacidade de análise das informações sensíveis. Ou, então, pode-se manter o sistema como está, assumindo o risco de novos vazamentos.

Uma espécie de batalha cibernética começou a ser travada nesta semana envolvendo nações em­­presas e "ciberativistas".Hackers passaram a atacar empresas que romperam contratos ou se recusam a prestar serviços ao Wikileaks, por pressão do governo dos Es­­­­tados Unidos. A novidade mo­­mentânea, nesse caso, é o fato de um grupo de indivíduos sem motivações estatais se engajar em defesa de Assange e, segundo eles próprios, em defesa da liberdade de ex­­pressão, representada pelas "san­­ções" impostas ao Wikileaks.

Na quarta-feira um grupo de "ativistas" chamado Anonymous executou o que chamaram de "Operação Vingança" e derrubou o website da MasterCard e, em seguida o do Visa, porque ambas deixaram de atender o WikiLeaks para recebimento de doações. Re­­ceberam ataques, também, críticos de Julian Assange, como o se­­nador norte-americado Joe Lieberman e Sarah Palin, assim como os sites do Ministério Público da Suécia o e do advogado das duas mu­­lheres que acusam o diretor do Wi­­kiLeaks de crimes sexuais.

Para os piratas cibernéticos, as ações contra o WikiLeaks abrem um precedente perigoso de violação à liberdade de expressão na web. Além das empresas Mastercard, Visa e Paypal cancelarem a conta da organização, por pressão dos Estados Unidos, servidores da empresa Amazon e do Estado francês retiraram o WikiLeaks da internet.

O grupo, que se diz formado por cerca de 1,5 mil pessoas, promete mais ataques contra "inimigos" do Wikileaks, entre eles o site de pagamentos Paypal e o servidor da Amazon. O fato de um jovem de 16 anos ter sido preso pela polícia holandesa anteontem demonstra o quão pode ser inusitado o perfil dos ativistas digitais

As tentativas de retirar o Wikileaks da rede foram neutralizadas com a criação de mais de 500 mirrors – cópias exatas do site em todo o mundo, por simpatizantes. A conclusão óbvia é que fica muito difícil hoje para os controlar informações na rede.

Para o professor de Relações Internacionais Paulo Visentini, todo o episódio é um tanto misterioso. "Mas uma coisa é certa, estamos vivendo uma espécie de guerra cibernética."

Já o cientista político Sérgio Amadeu avalia que a ação dos ativistas foi legítima, contra uma atitude ilegal. " Fosse no Brasil, por causa da Constituição e do Código de Defesa do Consumidor o ato dessas empresas seria considerado ilegal. Impediram o WikiLeaks de receber doações legítimas." A análise de Amadeu faz sentido, até porque a empresa que processa pagamentos da instituição, Datacell, da Islândia, deve mover ação contra Mastecard e Visa, conforme foi anunciado pela imprensa internacional anteontem.

Fora da rede

Julian Assange está detido na Inglaterra para ser interrogado a respeito da acusação de ter cometido abusos sexuais contra duas mulheres na Suécia. A pressão do governo dos Estados Unidos para que a Suécia reabrisse o caso e desse alerta vermelho à Interpol fez com que a prisão de Assange passasse a ter todas as evidências de um engodo. A reação à prisão do ciberativista agora parece estar deixando de ser um movimento do mundo digital para ganhar as ruas. Em São Pualo, um grupo de apoiadores ao líder do WikiLeaks está convocando para hoje um protesto em frente ao Consulado Britânico em São Paulo, com o objetivo de pedir que a Inglaterra liberte Lassange.

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