
A história é comum e curta. Conheceram-se na escola, em Abingdon, arredores de Oxford, Inglaterra, nas festas monótonas que frequentavam por lá, pouco antes de partirem para a vida acadêmica.
Thom, que nascera com um olho paralisado e até os 6 anos havia passado por seis cirurgias corretivas, aos 8 ganhou uma guitarra de sua mãe, e aos 10 formou uma banda punk (é claro), chamada TNT, com o baixista Colin Greenwood.
Quando passou a cantar, Thom decidiu que a banda precisava de músicos melhores e juntou o que logo mais viria a se tornar o Radiohead. Por interesses comuns em Joy Division e The Smiths, encontraram o baterista Phil Selway e fundaram um novo grupo, o terrivelmente batizado On a Friday.
Jonny Greenwood, irmão de Colin, após muita insistência conseguiu entrar para o grupo, inicialmente tocando harmônica, instrumento oficial de quem está realmente disposto a fazer de tudo para estar em uma banda.
Em 1987, com uma semana de ensaio, fizeram seu primeiro show, em um já extinto muquifo de Oxford. O grupo, organizado às pressas, contava ainda com duas irmãs saxofonistas (como sugestão figurativa para essa formação peculiar, gosto de pensar nas gêmeas dos corredores de O Iluminado, numa performance à la Maggie Simpsom Thom Yorke no meio, Jonny e Colin nas pontas).
Pouco tempo depois, pressionados pelos pais, os meninos tristes e financeiramente dependentes de Oxford, foram obrigados a deixar banda e vida mansa de lado para finalizar as atividades acadêmicas. Cada um para um lado, reencontraram-se na mesma Oxford, no verão de 1991, quando gravaram duas demos e conseguiram assinar um primeiro contrato de distribuição, sob a condição de descartar as irmãs saxofonistas e mudar o nome da banda.
Logo, a música "Prove Yourself, do EP Drill, foi eleita "a faixa do momento desta semana" pelo DJ Gary Davies, da inglesa Radio 1. Surgiu então para o mundo, o Radiohead.
Em 1992, lançam "Creep", que passou simplesmente batida pelo indie britânico. Por insistência de Thom, o single foi relançado em 1993 e aí sim, por razões que a história desconhece, a canção foi direto para o Top 10 das paradas inglesas, a banda fez sua primeira grande turnê e só viria a lançar algo sem cair direto nas graças da crítica e dos top charts, anos e anos mais tarde.
A vida e a rotina aeroporto-hotel-show-hotel-aeroporto, que geralmente costuma ser permeada de orgias, drogas, excentricidades e todo aquele papo já bem conhecido de todos, no Radiohead parece simplesmente não funcionar. Talvez até tenham tentado. Vez ou outra, possivelmente, alguns até tenham chegado perto da coisa, mas basta assistir ao brilhante rockumentário e diário da extenuante turnê pós-Ok Computer, Meeting People Is Easy (de Grant Gee, 1998) para perceber que eles são praticamente alienígenas nesse universo de clichês do rock.
Eles realmente parecem ter algum problema. Não se enquadram, não se ajustam. E é quando você realmente começa a ligar os pontos, que entende: esses caras são completamente caretas. Esses caras são arrogantemente tristes. Esses caras são artisticamente instruídos.
Na religião, mostram-se céticos e conflitantemente indulgentes. Na carreira, são dissimuladamente pretensiosos. A política quase não os atinge. Sua música se confunde com o conceito glacial e atmosférico dos suportes visuais que carregam. É isso. Tá aí. Esses caras só podem ser: art rock!
Independentemente do gênero, sexo, classificação ou rótulo de mídia, não há como ignorar o fato de que esse mesmo grupo, que convive exaustivamente desde quase a infância, conseguiu, ao longo dos anos, adquirir, lapidar e aprimorar a verdadeira "manha" de se re-inventar, de se superar, de chacoalhar moléculas e influenciar as coisas ao redor, mesmo que sequer se deem conta disso. Seja dissimulação ou não.
André Sakr é músico, designer e produtor



