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O nascimento do quadrinho adulto e o reconhecimento das HQs como expressão artística séria, servindo de tema para diversas teses acadêmicas recentes, são alguns dos temas comentados por Waldomiro Vergueiro, professor e coordenador do Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos da ECA/USP, na entrevista a seguir. O especialista também comenta o bom momento dos quadrinhos nas livrarias e sua continuidade nas bancas de revistas e jornais.

Caderno G – Há como se definir um ponto inicial, um marco zero na criação e publicação de quadrinhos voltados para adultos?Waldomiro Vergueiro – O início dos quadrinhos adultos está no movimento underground norte-americano dos anos 60 (Robert Crumb, Don Donahue Rick Griffin, Victor Moscoso, entre outros, criadores e desenhistas da revista Zap Comix – nota do repórter) e na produção européia na década de 70, principamente do pessoal que saiu da Pilote, Nikita Mandryka e Claire Brétécher, para criar a L’Écho des Savanes. Posteriormente, em 1974, aconteceu a criação da editora Humanoïdes Associes por Moebius, Dionnet, Farkas e Druillet, que editaram a revista Métal Hurlant (no Brasil, Metal Pesado). Com isso, houve o reconhecimento do potencial artístico das histórias em quadrinhos pelos intelectuais europeus, o que possibilitou a produção de mais material adulto. Ainda nos anos 70, há o aparecimento da graphic novel nos EUA, uma iniciativa muito mais empresarial do que um movimento espontâneo por parte dos artistas. É a indústria reconhecendo um potencial de mercado e investindo nele. Isso vai ajudar também ao reconhecimento do trabalho dos autores pela Marvel, a partir do Stan Lee, e à criação de um trabalho autoral que possibilita a exploração do quadrinho mais adulto.

Isso não quer dizer que os quadrinhos anteriores a esses citados não fossem para adultos, o quadrinho de jornal inicialmente visava principalmente esse público. O que fez com que as histórias em quadrinhos deixassem de ser vistas como material para a adultos foi o aparecimento das revistas, essas sim voltadas para crianças. O sucesso delas obliterou a influência dos quadrinhos do jornal, e a tira do jornal passou a ser cômica, que ainda continua visando o público adulto.

Qual sua opinião sobre esse bom momento dos quadrinhos nas livrarias?É uma evolução da própria área, não acho que seja modismo. Desde o começo da década de 70, está havendo uma ampliação do espaço para os quadrinhos, daqueles que fujiam do público infantil. Aos poucos, vai acontecendo o crescimento de um quadrinho direcionado a um público mais exigente. Isso vai se incrementar com a chegada dos mangás, que também trazem matéria para o público adulto, com o desenvolvimento das graphic novels nos EUA. Dessa forma, vai se criando um espaço para a publicação com mais qualidade, com objetivos mais ambiciosos. E o público vai aumentando, mas há uma diversificação, quase uma segmentação do mercado. Com isso, os quadrinhos vão saindo dos meios de comercialização tradicionais. Aos poucos, eles começam a chegar também nas livrarias, um material de maior qualidade, os álbuns, as graphic novels, que têm um tratamento mais nobre, que começam a obter seu espaço. Na França e na Europa, essa tradição dos quadrinhos nas livrarias já vem de muito tempo. Nos EUA e depois no Brasil, começam a aparecer as sessões especiais de quadrinhos dentro das livrarias. E não são necessariamente junto com a área infantil. Cria-se uma nova caracterização e espaço de vendas. Isso mostra uma evolução do meio, que deixa um pouco aquela característica de ser voltado apenas para o público infantil.

O investimento em livrarias não está afastando os quadrinhos das bancas?Discordo dessa visão. Nunca se teve tanto quadrinho em banca como nos últimos tempos. A média de quadrinhos que são lançado em bancas por mês está entre 70 e 100 títulos diferentes. Só a Panini (responsável pelos selos Marvel e DC no Brasil) joga 60 títulos mensais nas bancas. Há uma grande variedade, mas a tiragem diminuiu, porque o poder aquisitivo do público diminuiu. O preço das revistas subiu mais que a possibilidade que o público tem de comprar. Antigamente, a gente ia na padaria e, com o troco do pão, dava para comprar uma revista. Hoje, esse tipo de compra por impulso começa a ficar mais difícil.

E questão do preconceito, de se considerar o quadrinho uma arte menor? Ele continua?Vejo que o preconceito diminuiu em relação aos quadrinhos pelo número de teses sobre o assunto, o interesse de pesquisadores pelos quadrinhos está crescendo ano a ano. Aqui na USP, nos últimos cinco anos, tivemos mais pesquisa sobre quadrinhos na pós-graduação do que nos 20 anos anteriores. O crescimento é grande e isso é um sinal, um reflexo do respeito que as histórias em quadrinhos obtiveram. É lógico que o preconceito vai permanecer, de dizer que a literatura é melhor, não se quebra esse pensamento de uma hora para outra.

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